Já havia quem recordava a experiência da entrega de um documento de propaganda do PCP a um homem de idade quando, numa manhã bem cedo, o recebeu das mãos de uma brigada de militantes comunistas, a qual ao entardecer do dia, de regresso das zonas rurais a Setúbal, o reencontrou no mesmo local teimosamente a percorrer com a vista fresca o texto que permanecia intemporal. Se há sempre alguém que resiste, ali estava a prova de que, recortado por um magnífico sol poente, igualmente há sempre alguém – decididamente o mesmo sujeito – que lê.
Vem isto a propósito da expressão: “Vocês vêm adiantados, só sai amanhã!”, datada de uma quarta-feira d´há anos, logo que um trabalhador da Gestnave, na Mitrena também matinal, ao sair do autocarro apressado para o Estaleiro, nos viu a alguma distância. O bom hábito induzira-o em erro, não estávamos a vender o Avante!
O nosso inimigo (o de ambos) tem de se conformar: já acontecera na Autoeuropa, no caudal da entrada e saída do turno da tarde de uma quinta-feira de centenas e centenas de trabalhadores, particularmente de jovens trabalhadores (a quem a Administração chama “colaboradores”), já acontecera que um deles, com o órgão central do PCP na mão mas com o passo corrido para casa, exclamava em jeito de desafio e comprometimento: “Vocês apostam, diabo!”
Porque temos uma praxe, naqueles sítios, e com algum humor, a de fazer uma determinada outra prova provada (“E não há eleições!”), o homem que lia sentado, se as houvesse, poderia aparentar ser indiferente aos resultados, mas não por demissionismo, tão só, adivinha-se, por tenaz tenacidade; e o rapaz a correr com o Avante! oferecia-nos a garantia de usá-lo o melhor possível. É a outra dimensão dos gestos os mais “simples” da existência.
Simples, mas mais complicados, noutros tempos. Porque, a caminho dos 100 anos do PCP (em 2021), o jornal que dá nome à Festa fará, a 15 próximo, ainda só 89.
Valdemar Santos
Militante do PCP