Cartografia de um Baixo-Alentejo

Aldo Passarinho 

Professor Instituto Politécnico de Beja

 

Os mapas sempre me inspiraram enquanto representações do espaço, dos conceitos, das ideias ou das relações. São fragmentos visuais que nos permitem construir imagens mentais e alimentam o desejo de interação com o espaço. É o rio que se transpõe, o muro que se derruba. Sempre o desejo!

A redação desta crónica coincide com uma série de leituras sobre representações ou imagens mentais relacionadas com o espaço. Imagens visuais, sonoras, olfativas, na comunicação verbal ou escrita… Do “lado de cá do Tejo”, o Alentejo é um espaço singular para pensar sobre essas relações.

E foi com um pensamento “cartográfico” sobre o espaço Alentejo que acompanhei, no passado dia 11 de dezembro, uma reunião magna do “Movimento Beja Merece +”. A reunião prometia! Uma comitiva do Movimento deslocou-se ao Parlamento Europeu (PE), a convite de Carlos Moedas e Maria da Graça Carvalho, onde apresentou uma série de necessidades do Baixo-Alentejo. E traziam novidades!

Das visitas ao PE não podemos esperar resultados muito diferentes daqueles que foram apresentados pelo Movimento Beja Merece +. A missão foi cumprida! São visitas que nos permitem conhecer melhor o funcionamento do PE, nomeadamente os [lentos] processos legislativos, e para efeitos do desenvolvimento regional, o papel do Comité das Regiões. Mas não só! Servem também para perceber como é feito o public affair a montante dos processos legislativos, ou na identificação das oportunidades de financiamento.

O Movimento Beja Merece + ao ter como anfitriões dois dos grandes responsáveis pelas políticas de Investigação, Ciência e Inovação da UE trouxe “na bagagem” o desafio de candidatar projetos de Inovação e Investigação que permitam atender às necessidades da região. O Horizont Europe está à porta! E o Movimento devolveu à audiência o desafio, a oportunidade e a responsabilidade de operacionalizar esses projetos.

Mas quando falamos em projetos de investigação e inovação com aplicação na região, do que estamos a falar? O pensamento cartográfico condicionado pela circunstância de ser criador, docente e investigador no ensino superior [politécnico], remeteu-me para a imagem mental do “Corredor Azul[1]” ou do “Corredor do Sudoeste Ibérico”. O primeiro correspondeu a um projeto financiado pelo FEDER, no qual se conceptualizou um corredor entre Sines e Elvas; o segundo, mais ambicioso, a um conceito de corredor de ligação entre Lisboa e Madrid, assumidamente já com os olhos postos no Horizonte 2021/30.

A imagem mental que retenho de qualquer um dos corredores caracteriza-se pela ambição de “cartografar” pólos de desenvolvimento posicionados geograficamente num corredor ou “arco” a unir Sines, Lisboa, Évora, Elvas… Madrid. E o Baixo-Alentejo, o sul?

Na minha opinião, um projeto para resolver algumas das necessidade da região começará pela criação de um conceito semelhante aos “corredores”. Um conceito amplo! E porque não um corredor que ligasse Lisboa, Beja e Sevilha… com prolongamento a Almeria!?

Um corredor no qual fossem cartografados [para posterior associação num projeto] os centros de competências com capacidade de investigação e inovação aplicada a todo este imenso espaço. É uma imagem! Acredito que as imagens têm a capacidade de comunicar ideias ou conceitos, fundamentais para o public affair. Continua.