Reportagem Semmais: Incerteza paira sobre 400 animais do Badoca

O sócio-gerente alerta para o facto de não existirem linhas de crédito para o setor, que aguarda uma resposta do Ministério da Agricultura. Neste momento tem apenas três trabalhadores diários em laboração.

 

A pandemia de Covid-19 ainda não terá chegado aos animais, mas estes são dos seres que muito em breve poderão vir a sofrer as consequências da doença. Próximo de Vila Nova de Santo André, Santiago do Cacém, localiza-se o Badoca Safari Park, um local que alberga cerca de 400 espécimes e que agora se encontra encerrado. Não há receitas e os empregados estão em lay-off. A gerência deste parque, assim como de muitos outros que existem no país, aguarda que o Ministério da Agricultura, que é quem os tutela, aponte soluções.

O sócio-gerente do Badoca, Francisco Simões de Almeida, disse ao Semmais que o seu empreendimento, que deveria ter aberto as portas a 16 de março, continua encerrado e sem uma data prevista para reabrir. “Estávamos a contar com as receitas desta época do ano para tentar arranjar modo de subsistência. O que acontece é que todo o capital que poderia ser feito neste período já não é recuperável e aquele que se fizer em junho ou em julho e até agosto ou setembro, também já não será suficiente para assegurar o funcionamento normal do parque para o ano seguinte”, alegou.

“Não sei como vamos sobreviver. Posso aguentar mais três, quatro ou cinco meses, mas depois não sei como será. Perdemos toda a época das visitas escolares”, acrescentou o mesmo responsável, lembrando que anualmente o Badoca recebe cerca de 120 mil visitantes o que, mesmo sendo um número ainda distante dos cerca de um milhão de entradas contabilizadas pelos grandes zoológicos de Lisboa ou Porto, acaba por ser muito significativo para um equipamento da sua dimensão.

Francisco Simões de Almeida disse ainda que, atualmente, tem apenas equipas de três pessoas a trabalharem diariamente, por um período de 15 dias, no parque. São esses funcionários que asseguram a alimentação dos animais, que cuidam da limpeza e das instalações. “Numa situação normal teria até final de maio de 35 a 40 trabalhadores e entre agosto e setembro talvez uns 50”, adiantou o empresário que mantém 23 pessoas no quadro da empresa.

 

Empresários do setor aguardam respostas de vários ministérios

Neste momento não existe qualquer linha de crédito pensada para zoos ou aquários, diz o sócio-gerente do Badoca. Este empresário, em conjunto com outros do setor estão, no entanto, mobilizados para que, no breve trecho possível, o Estado lhes possa dar as respostas de que precisam.

“Estamos a disparar em todos os sentidos. Já escrevemos para o Ministério da Agricultura, que é quem tutela a nossa área de atividade e também já enviámos cartas para as Finanças, o Turismo, a Economia… Alguém terá de nos dar uma resposta”, acrescentou.

Os pedidos, acrescentou, não estão a seguir em nome individual dos empresários, mas antes através da Associação Ibérica de Zoos e Aquários. “Este é um problema que abrange muita gente e não apenas os proprietários das empresas. Não podemos esquecer que esta atividade engloba tratadores, zootécnicos, biólogos, veterinários, etc. É uma atividade que movimenta verbas muito grandes, que não se resumem apenas à alimentação dos animais, mas também ao aquecimento de determinadas instalações, às despesas de água, aos combustíveis”, explicou o empresário.

No caso extremo de os parques zoológicos terem de encerrar definitivamente as portas este ano, não se coloca a possibilidade de os animais serem vendidos. Francisco de Almeida diz que “a nossa missão passa por preservar espécies e não por as vender, até porque tal é proibido”. “Os parques e aquários têm obrigações a prestar ao Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, assim como à Direção Geral de Veterinária. Não se trata de um negócio, mas antes do bem-estar animal, da pedagogia e do respeito pela natureza”, concluiu.