No primeiro trimestre do ano, o negócio ainda decorreu com normalidade, mas já é possível antever tempos difíceis para o setor. Henrique Soares, presidente da CVR de Setúbal, diz que a quebra nas vendas pode atingir os 50%.
O encerramento da restauração traduziu-se numa quebra considerável de vendas no setor do vinho. Apesar de ainda não ser possível contabilizar a dimensão, Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional de Setúbal (CVR-S), diz ao Semmais que é notória a menor procura de vinhos e antevê dias piores. “Os primeiros três meses do ano correram dentro da normalidade, mas este mês já se começa a sentir uma quebra que, seguramente, se vai acentuar nos próximos meses”.
Segundo a SIBS (Sociedade Interbancária de Serviços), o consumo nos supermercados desceu 25%, nas duas últimas semanas, facto que, associado ao encerramento da restauração, provoca um abalo considerável no setor. Se a tudo isto se juntar um decréscimo no volume das encomendas na área da exportação, é fácil concluir que os tempos que se avizinham não são de boas expetativas. “Que vão ser tempos difíceis não restam dúvidas. Aquilo que ainda não sabemos é qual vai ser a magnitude dessa dificuldade”, explica Henrique Soares para quem a situação é preocupante. “A menor quebra ainda é a dos supermercados, mas nem todos os produtores vendem em supermercado” e, por isso, o barómetro não será igual para todos. “Na exportação, apesar de ainda existirem encomendas, a verdade é que as quantidades encomendadas são muito inferiores ao habitual” e com as vendas no mercado nacional a decrescer o cenário não parece famoso até porque, salienta Henrique Soares, “o vinho não é um produto de primeira necessidade e quando as pessoas sentirem necessidade de ‘cortar’ em algumas coisas, o vinho será uma delas”.
Comissão vitivinícola a acompanha situação e procura soluções
A Comissão continua a trabalhar normalmente apesar do estado de emergência. Mantém os laboratórios em funcionamento e continua a emitir certificações. Apenas as ações de promoção estão canceladas.
A acompanhar o desenvolvimento da situação desde a primeira hora, a CVR de Setúbal em conjunto com as suas congéneres a nível nacional e com o Instituto da Vinha e do Vinho procuram soluções e medidas que possam ajudar os produtores nos próximos tempos. “Temos transmitido à tutela o estado de evolução do setor. A ministra da Agricultura está preocupada e sabemos que está a acompanhar a situação. Em Bruxelas estão a ser pensadas medidas de apoio ao setor. São medidas de crise para fazer face aos stocks da campanha de 2019 que estão muito acima do normal e é necessário escoar esses stocks porque, caso contrário, isso vai interferir com a campanha deste ano que está agora a começar. Os produtores estão a conseguir tratar das vinhas, mas, se a situação se prolongar, vamos entrar aqui numa ‘bola de neve’ preocupante”. Ainda é difícil perceber a dimensão da crise que será gerada no setor, mas “já se fala em valores superiores a 50% de quebra”.
Henrique Soares espera que as medidas que venham a ser encontradas e anunciadas a partir de Bruxelas sejam complementadas com medidas nacionais de apoio ao setor e deseja que “as exportações comecem a mexer para compensar a quebra no mercado nacional” que, provavelmente, vai demorar mais tempo a ganhar dinâmica.