A demografia do nosso Alentejo recebeu o impacto insidioso do COVID-19 com duas caras. Por um lado, somos poucos, vivemos com largueza, temos uma cultura de limpeza espelhada nas nossas vilas e aldeias de casas caiadas ano após ano e uma afetividade serena. Por outro lado, temos uma pirâmide etária envelhecida e muita gente a viver no limiar da dignidade. Talvez confundido com esta duplicidade, no momento em que escrevo este texto a pandemia não fez por cá ainda grande estrago sanitário. Já o estrago económico e social tem sido e continuará a ser profundo, no Alentejo, como em todo o País e em todos os continentes.
O Tsunami de quebra económica e de emprego que se seguirá ao terramoto sanitário já se sente a rugir no horizonte. Temos que nos reinventar para lhe sobrevivermos e sairmos dele mais fortes. Depois do tempo da resposta de emergência, cuja longura ainda não conseguimos aquilatar, virá o tempo da recuperação.
A União Europeia acabará por se entender na aprovação de mecanismos solidários de financiamento, aos quais o Alentejo poderá recorrer para apoiar as suas instituições sociais e as suas empresas no arranque para um novo ciclo. Ainda focados prioritariamente na pandemia e na forma de responder aos seus riscos imediatos, temos que começar a pensar em simultâneo na forma como vamos reconstruir o nosso sistema económico e social, em que novas e velhas cadeias de valor vamos apostar e em que atividades serão mais capazes de puxar pela região e pelo seu desenvolvimento a partir de agora. As diferenças serão menos de tipologia e mais de estrutura e de organização.
Temos um vasto acervo de estudos e fizemos múltiplos debates preparatórios do quadro de financiamento e de desenvolvimento regional para 2021/2027. As reflexões, as conclusões e os planos feitos antes da devastação pandémica continuarão a ser úteis, mas têm que ser adaptados às novas ameaças e sobretudo às novas oportunidades. Os sectores resilientes nestes momentos difíceis têm que ser a plataforma de recomeço, num tempo em que a soberania e a autonomia estratégica voltarão a ser mais valorizadas.
Vivemos momentos de grande incerteza. Não é um tempo para respostas apressadas ou palpites. Há, no entanto, uma realidade que todos pressentimos. Depois da crise nada ficará igual. Para nos organizarmos depois dela não basta replicar o que havia antes. Pensar o que queremos ser depois do que fomos, é um desafio coletivo que se tem que se ir transformando em ação corajosa e determinada. Sem Mais.
Carlos Zorrinho
Eurodeputado PS