Acusam o presidente de ser autocrático e antidemocrático, depois deste ter demitido o diretor do serviço de Ginecologia e Obstetrícia. Uma carta de protesto assinada por 116 clínicos seguiu para a ministra da Saúde.
São 116 os médicos do Hospital Garcia de Orta, em Almada, que subscreveram uma carta enviada à ministra da Saúde contestando a atuação do conselho de administração do estabelecimento, que demitiu na passada semana um diretor de serviços por, dizem, delito de opinião.
A denúncia deste caso surgiu hoje, por intermédio do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, o qual acusa a conselho de administração do Garcia de Orta de “gestão autocrática e antidemocrática”. Num contacto do Semmais Digital, a sindicalista Guida da Ponte disse que o caso que agora motivou os protesto junto do Ministério da Saúde nem sequer é inédito. “Esta não é uma situação nova. É antes o resultado de uma gestão autocrática, em que os médicos nunca são ouvidos”, disse.
A gota de água que terá feito transbordar o copo da paciência dos médicos terá ocorrido na passada semana, quando o diretor do serviço de Ginecologia e Obstetrícia foi demitido depois de ter manifestado desagrado perante uma diretriz do diretor clínico do hospital, o qual estaria a mandar internar na mesma enfermaria grávidas com e sem infeção por Covid-19. Isto, diz o sindicato baseado nas declarações dos clínicos, apesar de existirem vagas exclusivas para as portadoras do vírus.
“Com esta atitude, o presidente do conselho de administração do Hospital Garcia de Orta evidencia, mais uma vez, o caráter autoritário que já tinha demonstrado enquanto Diretor Executivo do ACES Almada-Seixa”, refere ainda o texto do sindicato
“São política erráticas registadas ao longo de muitos anos”, esclareceu Guida da Ponte, que aponta a existência de grandes e drásticas reduções de tempos de bloco operatório nas especialidades de Ginecologia, Ortopedia e Neurocirurgia.
“O encerramento da urgência noturna de pediatria, que ainda se mantém, é apenas mais um exemplo de um modelo de gestão que tem contribuído para o mau estar que se vive no hospital”, disse Guida da Ponte, acrescentando que, em relação aos doentes com Covid-19, “a consequência da série de atos de gestão questionáveis tem provocado prejuízos acentuados para os doentes.
Dando outro exemplo do que considera má gestão, o sindicato diz que “o serviço de Ortopedia tem 40 doentes com fraturas a aguardar sala operatória. Esta decisão resulta no agravamento das listas de espera para cirurgia e promove o recurso aos hospitais privados através dos cheques-cirurgia”.
O sindicato diz que durante período epidémico, também de forma prepotente, os jovens médicos internos da Formação Geral foram obrigados a cumprir horários excessivos e ilegais no serviço de urgência, sem apoio qualificado.
O Semmais fez diversas tentativas para recolher um depoimento de algum responsável do conselho de administração do Garcia de Orta, mas todas as tentativas resultaram infrutíferas.