Durante a pandemia assistimos ao melhor e ao pior do ser humano. Atos de grande altruísmo, de verdadeira solidariedade e generosidade que nos fazem pensar que a Humanidade, afinal, é uma universalidade concreta que reside em cada um de nós. Mas rapidamente percebemos a vulgaridade a que muitos se prestaram aproveitando torpemente a fragilidade dos mais desprotegido para obter visibilidade. O poder, de facto, pode ser inebriante e é no seu exercício que os líderes e os homens de carácter se revelam.
As autarquias têm sido um braço armado no combate deste inimigo invisível. Muito antes do Estado central emitir orientações através da DGS, já alguns autarcas tomavam a iniciativa para proteger as suas populações. Estiveram sempre um passo à frente. Provaram porque merecem o voto popular. Foi o caso de Ovar e Cascais, por exemplo, para citar os casos nacionais. Sem demagogia barata, sem populismo, sem ações baratas para explorar a desgraça alheia, sem exposição gratuita dos que mais precisam de apoio, em suma, sem aproveitamento político. Dois excelentes exemplos da importância do poder local e da proximidade às populações.
Já outros usaram o seu poder e recursos públicos para obter maior visibilidade e popularidade, ou não se aproximasse um ano de eleições autárquicas. Assistimos a tudo. Aproveitamento das propostas da oposição para as rotular como suas, distribuição de material de proteção porta a porta em que o edil, pessoalmente, procede à entrega, protagonizando um ato de campanha eleitoralista eticamente reprovável e até alguma confusão entre dádivas do poder local e das comunidades intermunicipais. Todos querem estar na linha da frente… para estender a mão ao indigente. Em momentos de crise, não pode valer tudo. Naturalmente que se exige a quem exerce o poder, que o faça de forma enérgica especialmente para proteger os mais desfavorecidos. Mas há que resistir à tentação tirânica da demonstração do poder pela subserviência! Aproveitar a necessidade do ser humano para lhe acenar com migalhas e provocar-lhe sentimentos de gratidão, quando apenas se cumpre uma missão, no âmbito das competências confiadas pelo voto secreto e universal é deveras atroz e roça o requinte da malvadez. E torná-lo público nas redes sociais é inqualificável. Do mesmo mal padece a comunicação social, que não resiste à exposição gratuita da desgraça humana quando deveria evitá-la, já que foi presenteada com os impostos de todos nós e, supostamente, presta um serviço público. Honrosa exceção para os (poucos) órgãos de comunicação social que tiveram a hombridade de renunciar à “doação”. Afinal, a liberdade de expressão, enquanto pilar da Democracia, não está à venda (!?). Imagino o sentimento de injustiça dos órgãos de comunicação social regionais/locais que há longos anos reclamam a atenção do governo, sem êxito, ao constatar a lista da distribuição de milhões. De facto, somos todos iguais, mas há uns mais iguais que outros. “Liberdade parcial não é liberdade” Nelson Mandela.
Sónia Ramos
Presidente da Comissão Politica Distrital do PSD de Évora
Membro da Assembleia Municipal de Montemor-o-Novo