Fazer das fraquezas, forças.

Sempre houve um espaço de tempo que medeia entre a visão, a decisão e a concretização, sobretudo em momentos de viragem de ciclo. Com o embate sanitário, esse intervalo, por vezes de reflexão e outras vezes de inação e acomodação, deixou de ser tolerado.  Os povos exigem ação.

Este sentido de urgência também se aplica ao nosso Alentejo.  Com a forma mais descansada como o tempo aqui flui e com o vagar que pela nossa natureza e cultura colocamos nas coisas, dando-lhe mais sabor, identidade e verdade, temos também nós que acelerar na visão, na decisão e na ação.

A devastação económica e social provocada pela pandemia vai exigir uma aceleração da mudança, apoiada num plano de recuperação e transformação que permita retomar a dinâmica económica e social de cara lavada e mais preparada para os desafios da diversidade, da sustentabilidade e da competitividade global.

Temos agora mais dados para proceder à reinvenção que foi tema da minha crónica anterior. A crise expôs as fragilidades das cadeias logísticas europeias, o seu atraso na digitalização de processos e serviços, as suas dependências de matérias-primas estratégicas e as suas falhas na resiliência, integração e sustentabilidade de muitas das indústrias de bens e serviços.

O Plano de Recuperação e Transformação, que será integrado no Quadro de Financiamento Plurianual 2021/27, a ser ultimado pela Comissão Europeia quando escrevo este texto, tem por objetivo fazer das fraquezas, forças, ou seja, incentivar uma resposta que seja potente para recuperar a economia e o tecido social, ao mesmo tempo que corrige as suas principais debilidades, agora flagrantemente expostas.

O Fundo de Transição Justa vai ajudar-nos a transformar Sines num polo líder no hidrogénio verde, complementando as outras valências daquele nó das redes globais de energia e dados, mas temos que preparar rapidamente os outros polos de excelência regionais, na energia verde, na agricultura sustentável, na aeronáutica, no turismo de experiência, na metalomecânica, nas pedras ornamentais, na prestação de cuidados diferenciados de saúde e nos serviços de alto valor acrescentado, no conhecimento e no desenvolvimento, para também eles beneficiarem do Fundo Europeu de Recuperação e Transformação.

Fazer das fraquezas, forças, é também fazer da diversidade uma vantagem na luta por projetos comuns e que a todos podem beneficiar, designadamente nas acessibilidades e na centralidade ou periferização que decorrem das escolhas feitas. Foi bom ver o Alentejo a exigir a uma só voz que a ligação ferroviária ligação Sines – Badajoz não seja apenas um atravessamento de mercadorias. Tem que se inserir no território e beneficiar as pessoas da nossa terra. Que o exemplo faça escola.

Carlos Zorrinho
Eurodeputado PS