Os desafios de um novo tempo

Ouvindo O Sole Mio, quero acreditar que um lindo dia de sol está na nossa frente. Para além da música extraordinária que me distende no encanto da melodia, trecho musical universal e intemporal que nos leva a uma reflexão profunda e a questionarmos quem somos e para onde vamos. Afinal, esse grande desafio que radica na Filosofia e na História disciplinas que, ao que parece, tão em desuso caíram nos manuais e na aprendizagem nas nossas escolas.

O tempo que temos vivido e que continuaremos a viver de COVID-19 e de desconfinamento, bem precisam destas duas disciplinas. Ajudam-nos a encontrar na História episódios e justificação destes males que têm atravessado a humanidade e obrigam-nos a ir ao mais recôndito do nosso ser, procurando entender de que massa somos feitos, a razão da nossa existência, o nosso espírito de sobrevivência e, acima de tudo, elevarmos a outra dimensão que não depende de nós mas que nos faz entender que não dominamos todas as variáveis da nossa vida e que bem pode haver a determinação de um Ser Supremo. Tudo isto, não enjeitando enquadrar nessa disciplina maior a que se chama de Filosofia.

Sabemos das incontornáveis implicações desta crise pandémica na economia e nas finanças dos países e dos males causados às pessoas em termos sociais, coisas que embora subentendidas neste estado de espírito, não nos levam a discorrer sobre os números e a quantificação dos efeitos. Fiquemo-nos por este sentido positivo da esperança que não nos deve faltar e saibamos acrescentar a este momento um pouco de felicidade no encontro de nós mesmos, reclamando presença e gratidão ao nosso instinto de sobrevivência. Oiçamos esta linda canção que exalta o sol e a felicidade de viver, abandonando um corpo sofrido e acreditando que dias melhores virão. Sem Mais!

 

Ouvindo “O Sole Mio”, em tempo de vírus

 

Amanso as pálpebras e tudo em meu redor

pouso em meu ouvido aberto e curioso,

o corpo na languidez de quem recebe

a melodia imaginada e conhecida.

 

Surgem os acordes e no requebro da voz

dos cantores que em dueto afinado

vão do silêncio da espuma na praia deserta

aos píncaros da montanha adorada.

 

Deixo-me ir nas asas daquela ave trazida

que voa dentro de nós quando soltamos

a liberdade de procurar a felicidade

que desconhecemos por a julgar perdida.

 

Baloiço entre as notas de uma canção cantada

já de mim não sou nem me pertenço,

apenas a imaginação desta força que suporta

o que julgo ser e que mereço.

 

Que lindo dia de sol está na nossa frente,

rasga o céu plúmbeo desta melancolia,

que hoje seja em tudo diferente

no encanto suave desta melodia.

(inédito)

José António Contradanças
Economista / Gestor