Da investigação que fizemos esta semana sobre as escórias que estão acondicionadas, a céu aberto, em vale da Rosa, e em relação às quais ainda subsistem dúvida sobre a sua eventual perigosidade, veio-me à memória o projeto da Nova Setúbal.
Apesar de alguns riscos ambientais que o mesmo implicava, nomeadamente o arraso de alguns milhares de sobreiros, sempre defendi tratar-se de um empreendimento necessário à modernidade de Setúbal. Talvez não com a dimensão imobiliária projetada no início, mas, reduzida essa carga urbana, o conceito justificava-se em pleno.
Em primeiro lugar, porque a zona oriental de Setúbal é ainda hoje a única área para onde a cidade pode crescer. E, em segundo, porque iria ganhar uma nova e grande centralidade, poupando o miolo e o coração da urbe de tanto betão e de tanto congestionamento. Finalmente, com este projeto – resolvidas as questões megalómanas e de cariz ambiental – Setúbal poderia atrair mais gente e mais gente nova. Talvez não continuasse a perder população e a perder a sua força de capital da região. Mas essas são contas de outro rosário.
O processo foi polémico, divisionista e, de certo modo, comprometido por uma imensa luta entre empresários e ambientalistas. As forças políticas, sem distinção, pouparam-se à refrega e nunca assumiram o projeto a tempo inteiro. A única entidade que lucrou – o que acabaria por ser mais escandaloso – foi o Vitória de Setúbal que embolsou uns milhões de euros para tapar buracos financeiros e, eventualmente, comprar jogadores de futebol.
Afirmo isto sem malícia, mas sei do que falo, porque o Vitória foi usado como moeda de troca, no sentido em que a Pluripar ‘ofereceu’ na altura a possibilidade de instalar o clube sadino num estádio de algum modo espartano, mas moderno, cómodo e fora da confusão da urbe. A cidade, por sua vez, ficaria liberta de um espaço (atual Bonfim) que poderia engrossar o seu verdadeiro pulmão. E a Pluripar ganhava um trunfo para fazer vingar a Nova Setúbal e ainda ficaria com direitos sobre alguns pedaços do velho e atual Bonfim.
Nada disto aconteceu, por falta de assunção política clara, por enviesamento das premissas no que diz respeito aos promotores, e por falta de entendimento sobre o projeto versus questões ambientais.
É pena. Podia não ser o projeto perfeito, mas seria certamente exequível e de relevância superior para uma Setúbal Capital.
EDITORIAL
Raul Tavares
Diretor