A Escola: Espaço de Memórias.

A escola representa para cada um de nós uma multiplicidade de sentimentos e emoções fruto do nosso percurso escolar, dos sucessos e insucessos académicos. É verdade! Mas, acima de tudo a escola representa para cada um de nós a memória de um espaço com cheiros, sabores, texturas, sons e micro expressões faciais que nos despertaram para a vida.

No final de mais um ano letivo completamente atípico para professores e alunos, consequência direta da COVID-19, apartados da vivência experiencial dentro do espaço da escola, motiva-me a pensar naquilo que poderá vir a ser o próximo ano letivo a partir da ressonância da entrevista ao Ministro da Educação, publicada no jornal Expresso, na sua edição de 4 de julho.

É objetivo voltarmos ao ensino presencial! E, conforme sustentou Tiago Brandão Rodrigues, as formas de mitigar a propagação do vírus não se limitam à distância física. Passam pela higienização dos espaços, lavagem das mãos, etiqueta respiratória e existência de “bolhas”, ou separação dos alunos por grupos que facilmente sejam isolados se surgir um caso de contágio.

Mas que “bolhas” são essas? Não são turmas mais pequenas, pois de acordo o Ministro da Educação: “é impossível multiplicar por dois a capacidade das escolas ou o corpo docente de forma a reduzir cada turma para metade”; não é a utilização de espaços maiores pois eles não existem e temos que utilizar o edificado existente, dando preferência aos “espaços de sala de aula”.

As “bolhas” são uma “metáfora organizacional” que vai dar muito trabalho às escolas, exigir muita responsabilidade e colocar em evidência a capacidade de organização e liderança das suas direções. Um trabalho com diferentes níveis de exigência. As escolas localizadas em zonas com maior pressão demográfica, com mais turmas para gerir, terão mais dificuldade em criar e gerir essas “bolhas”.

Uma aparente vantagem para escolas localizadas em territórios de baixa-densidade, com excelentes edifícios e menor ocupação, como observamos um pouco por todo o interior do país com destaque para o Alentejo, por questões demográficas que todos conhecemos.

Agora, se por um lado, esta enunciação do Ministro da Educação soa a uma espécie de distopia de um “Admirável Mundo Novo” (Huxley, 2013), planificado e nada “admirável”, por outro lado, impõe-se de facto pensar em formas de voltarmos à escola enquanto espaço de vivência experiencial e percetiva na construção de memórias, sonhos e desejos a partir dos cheiros, dos sons e da interação física e empática com o outro. Como diriam os meus alunos: “estamos juntos” nesse objetivo.

Aldo Passarinho
Professor Instituto Politécnico de Beja