Provas de fogo

Sou daqueles que reconhecem o papel decisivo e cada vez mais relevante dos nossos autarcas, e sou frontalmente contra os anátemas que, não raramente, são lançados sobre estes homens e mulheres que nesta missão pública dão tudo de si em prol das suas comunidades.

Em mais de trinta anos de atividade jornalística conheci e conheço muitos presidentes de câmara, sendo que com a maioria deles sempre mantive uma natural equidistância, própria das funções que exerço em respeito pelo papel distinto do jornalista e do político.

Por esta experiência adquirida no terreno tenho um olhar e uma perceção muito fidedigna no que toca ao quotidiano de um presidente de câmara e, nomeadamente, das ligações que são forjadas com as pessoas, os munícipes, e com os agentes locais. Respira-se e pratica-se, em cada freguesia e em cada município, a verdadeira política da proximidade.

Claro que há exceções, e claro que há as chamadas ‘ovelhas-negras’, mas a parte nunca fez o todo, nem a árvore pode ser confundida com a floresta.

Se ainda houvesse dúvidas sobre o papel e a missão destes bravos da política local, a enxurrada trazida pela pandemia trouxe à tona, pelos piores motivos, a força e a imperiosa nobreza da atividade autárquica.

Os autarcas estiveram sempre na primeira linha, foram dos primeiros a tomar medidas e a medir o pulso ao avanço indistinto e invisível da Covid-19 e nunca regatearam esforços no seu combate. Uns mais que outros, naturalmente, porque este coronavírus soube ‘ferrar’ a seu belo prazer.

No caso do Alentejo, onde o vírus, de certo modo, tem sido mais ou menos parcimonioso, tivemos, primeiro, o foco do Bairro das Pedreiras, em Moura, e, agora, sobretudo, em Reguengos de Monsaraz, onde o líder local, José Calixto, tem sido obrigado a lidar com a calamidade mais acesa, num lar de idosos e em cadeias comunitárias.

Nestes casos, como em muitos outros registados em todo o país, a prevenção, as contingências e os planos de emergência não conseguiram travar o impacto da doença e das mortes. Mas estou convencido que muitos e muitos casos e muitas e muitas mortes já foram evitadas.

Só com a experiência e a abnegação de autarcas com o calibre do de Reguengos e de outros tantos municípios se conseguiria lidar com estas provas de fogo, que extravasam a política, as guerrilhas partidárias e as gincanas de toda a ordem. Enfrentar esta crise é a prova maior de que o poder local está vivo!

Raul Tavares
Diretor