Industrialização para garantir autossuficiência

O primeiro-ministro, António Costa, anunciou esta semana um novo ciclo de industrialização para o país. Faz bem. Portugal precisa urgentemente de esbater a sua dependência do exterior e empreender um novo caminho estratégico.

O relatório Porter, dos anos 90, que apostava na política de nicho e da diferenciação das nossas empresas e dos nossos produtos, podia ter resultado, caso não tivéssemos desindustrializado o país com a fogosidade que o cavaquismo empreendeu. Na grande indústria, a pesada, mas também nos setores primários, como a pesca e agricultura.

Ainda hoje o setor piscatório não cobre as necessidades do país e o mesmo acontece com o setor agrícola, apesar dos números recentes apontarem para um valor de autossuficiência acima dos 80%, com exceção dos cereais e das oleaginosas. Há muito a fazer.

Mas esta nova política de industrialização estratégica deve ser gizada cirurgicamente, procurando investir nos setores que nos afastam do equilíbrio da balança de transações correntes, agora de novo com mais importações e menos exportações. É este o caminho.

Se é para fazer, que se faça bem feito, bem pensado, em articulação com os representantes dos setores económicos, com os empresários e com os investidores, alavancados pelo novo Banco de Fomento, finalmente lançado no terreno.

Num modelo económico escancarado em que vivemos, em nome dos mercados abertos, sem grandes armas para protecionismos, é possível e mesmo imperioso apostar em trunfos nacionais que vão para além do vinho, dos produtos hortícolas e até do turismo. É preciso jogar mais alto, identificando setores, mesmo da indústria pesada, capazes de aumentar a nossa capacidade de autossuficiência e atenuar as compras ao estrangeiro.

Num tempo em que as divisas já não são o que eram, estas políticas podem robustecer a nossa economia, o nosso perfil financeiro e não deixar que Portugal volte aos desequilíbrios históricos de importar mais do que exporta.

Para além de, como se provou com a Covid, ser absolutamente essencial garantir internamente as necessidades que o país e os portugueses precisam para viver e subsistir.

Raul Tavares
Diretor