Setembro é mês de o Senhor da Piedade e o São Mateus em Elvas

A pandemia cancelou o Senhor da Piedade e o São Mateus. Nada que faça esmorecer o entusiasmo em torno da cidade fronteiriça que, pela sua História, monumentalidade, gastronomia e simpatia continua a atrair milhares de visitantes. Não é apenas uma viagem à História. É, sobretudo, uma alegre visita às ‘estórias’ de um local milenar.

Longe da vista, mas, mesmo assim, perto do coração. As seculares festividades religiosas do Senhor da Piedade e a não menos conhecida Feira de São Mateus, em Elvas, não se realizam este ano. Razões de saúde preventivas assim o determinam. Mas, nem assim os elvenses deixam de acorrer à sua cidade prevendo-se que, neste setembro, nas datas habitualmente reservadas para as comemorações, todo o comércio possa estar ativo e o turismo em recuperação.

Ao certo ninguém consegue ainda quantificar quanto deixará o comércio da cidade, que é Património da Humanidade, de embolsar devido ao cancelamento dos festejos. Sabe-se, isso sim, que num ano normal, é difícil encontrar onde pernoitar ou que é necessária alguma paciência para tomar uma refeição em alguns dos muitos restaurantes de qualidade existentes. No entanto, há boas expetativas. “Os elvenses regressam sempre à sua cidade nesta época do ano. Os nossos vizinhos espanhóis também não se afastam. Eles gostam de Elvas. Além disso, todo o comércio estará a funcionar e todos os monumentos estarão abertos”, diz o técnico municipal de turismo, Rui Jesuíno.

Em declarações à Semmais, o mesmo responsável do município explica que esta será a terceira ocasião, em mais de três séculos de existência, que os festejos, religiosos e pagãos, não vão dominar a vida na cidade. “No século XVII, em data não especificada, o país estava a contas com a peste e, contrariando o que já era um hábito, a feira, que já então reunia visitantes vindos de todo o Alentejo, não se realizou no sítio habitual, fora da cidade, mas antes a coberto das muralhas, evitando-se desse modo a entrada de doentes”. “Mais tarde, já na segunda metade do século XIX, declarou-se uma grande epidemia de cólera no Sul de Portugal e, durante alguns anos, também não se celebrou o Senhor da Piedade nem se realizou o São Mateus”, adiantou.

 

Faltam os pendões, mas há muito mais

Mesmo sem os pendões das paróquias (houve uma altura que até os espanhóis participavam na procissão do Senhor da Piedade). Mesmo sem as filas de mais de dois quilómetros de fiéis a desfilar pelos arruamentos antigos, Elvas continua a ser um caso ímpar no turismo nacional. E nem a pandemia, que durante meses encerrou a fronteira, parece agora ter força suficiente para afastar os milhares de turistas que na cidade procuram a riqueza da gastronomia, mas também o conhecimento relativo património arquitetónico sem igual no país, sobretudo no que diz respeito às fortificações militares.

A cidade continua a ser uma referência no que respeita “à arte de bem comer” e, também, um destino procurado em barda (em quantidade) pelos que, interessando-se pela História, tentam descobrir nos inúmeros monumentos que ali existem, as histórias antigas que ajudaram a salvar a nacionalidade.

“Elvas não se resume às muralhas abaluartadas. Tem uma história bem mais antiga, mas não menos rica. É uma história milenar que conta a evolução dos povos”, resume Rui Jesuíno, lembrando que o grande fluxo turístico à cidade não pode, nunca, ser consequência de um único pormenor, mas de um conjunto de factos históricos, de património arquitetónico.

Esse conjunto de factos inclui, naturalmente, a riqueza gastronómica da cidade e dos concelhos vizinhos. Os espanhóis, sobretudo os de Badajoz, dizem alguns os habitantes de Elvas, são figuras sempre presentes no quotidiano da cidade. “Procuram os restaurantes, porque aqui a variedade é enorme e a qualidade é indesmentível. Há uma grande tradição nos pratos de bacalhau, sobretudo do bacalhau dourado, e a verdade é que há gente que atravessa a fronteira pelo menos uma vez por semana para vir comer a Elvas”, recorda o técnico municipal.

Covid? “Até agora, desde que foi declarado o início da pandemia, os casos de Covid conhecidos na cidade são 23. Nada que possa ser comparável com as epidemias de peste e cólera de outros séculos. Tudo tem decorrido de modo muito satisfatório. Os cuidados preventivos são inúmeros e estão aplicados em todo o concelho. A prova disso, de que as medidas tomadas estão a resultar, é que ninguém desiste de vir a Elvas, seja para passear ou para trabalhar”, diz Rui Jesuíno, sublinhando desse modo a segurança higiénica que se constata na cidade.