Os elementos da GNR não queriam entregar um evadido de Pinheiro da Cruz ao Corpo da Guarda Prisional. Disputa de competências ou protagonismo?
A detenção, na terça-feira, em Ferrarias, Grândola, de um recluso que na véspera havia fugido do Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz fez extremar as relações entre os elementos do Corpo da Guarda Prisional e alguns efetivos da GNR.
A disputa pela posse do preso quase fez com que os elementos da Guarda Prisional e da GNR se confrontassem, com os primeiros a recusarem sair do posto de Grândola sem que lhes fosse entregue o evadido. A situação apenas se resolveu várias horas depois e após intervenção de altas chefias das duas forças envolvidas.
Fonte conhecedora do processo disse ao Semmais que, por vezes, acontecem desavenças relacionadas com algum tipo de operações policiais, sejam elas relativas a capturas ou apreensões. O desejo de protagonismo, afirmou o responsável que pediu para não ser identificado, parece justificar o episódio de Grândola. A mesma fonte atestou ainda que nestes casos a lei determina que os reclusos em fuga, sendo detidos por uma qualquer força policial, devem sempre ser entregues ao Corpo da Guarda Prisional.
O preso em fuga, um homem de 36 anos que se encontrava na situação de regime aberto com vigilância descontinuada (o que significa que trabalhava fora dos muros da cadeia de Pinheiro da Cruz e cujas movimentações nem sempre eram acompanhadas pelos guardas) terá aproveitado precisamente uma ocasião em que não havia controlo junto da casa onde residia com outros presos e da zona agrícola onde trabalhava para saltar uma vedação e desaparecer.
Posse proibida de telemóvel terá motivado a fuga do recluso
O Semmais apurou que após ter sido descoberta a fuga (a qual terá ocorrido porque o recluso receava ser punido por alegadamente ser o dono de um telemóvel que estava na casa que dividia com outros reclusos), o Corpo da Guarda Prisional terá pedido ajuda à GNR para, em conjunto, montarem um perímetro na área onde se supunha que o homem se encontrava. E assim foi. A detenção veio a ser concretizada por pessoal da GNR que, quase de imediato, o terão levado para o posto de Grândola, recusando-se, durante algumas horas, a entregá-lo à Guarda Prisional.
A maior parte das evasões dos últimos anos acontecem, sobretudo, com presos que trabalham e dormem em casas nas imediações das cadeias. Noutras fugas os reclusos aproveitam saídas precárias para não regressarem. Fugas violentas ou através de métodos mais engenhosas, como túneis ou corte de gradeamentos, já não ocorrem há muitos anos.
Mesmo não tendo sido possível precisar o número de evasões nas três prisões do distrito de Setúbal (Setúbal, Montijo e Pinheiro da Cruz), os responsáveis dos serviços prisionais contactados afiançam que as mesmas não são elevadas. As estatísticas existentes referem que, a nível nacional, entre 2013 e 2018, houve 41 evasões, as quais envolveram 50 reclusos.