Uma aplicação e muitos erros

Quando o primeiro-ministro aconselhou o uso da aplicação “Stayaway Covid” estive mesmo para avançar, em frente e em força. A ideia parece interessante. Vale a pena, nem que seja para salvar uma vida.

Mas o processo não foi bem conduzido, a começar pelo facto de muitos de nós estarmos fartos de ser impingidos com aplicações para tudo e para nada, a maior parte das vezes com intuitos nada benignos.

Diria mesmo que o “Big Brother” – e não é o daquela confusão de gente na TV – já está desde há muito instalado em cada dos humanos, pelo menos nos que usam as suas ferramentas lineares: o computador e o telemóvel.

Nesta equação, as aplicações e as redes sociais são o ingrediente maior e a voracidade das tecnologias o seu combustível incolor, dando expressão a esta Era da globalização em que todos nós queremos mais e mais e ainda mais, distorcendo as necessidades básicas e as mundanas, e ensaiando tempos ainda mais futuros, nos quais não será preciso um Covid qualquer para nos afastar e matar os afetos.

Passando por cima daquilo que podia ser uma decisão útil, através de uma campanha pública de informação e promoção deste novo serviço, o Governo optou, com o agigantar da pandemia, pelo caminho da imposição. Nada mais errado, lembra o exemplo chinês e abre um perigoso precedente, para não juntar os problemas objetivos: nem toda a população tem telemóvel e a fiscalização é inexequível, absurda e muito perigosa no que toca aos direitos, liberdades e garantias.

A aplicação, em si, mesmo com defeitos, pode ser útil. Rastreia num tempo útil de quinze minutos e os distanciamentos em redor dos dois metros. Parece salvaguardar a invasão de privacidade e garante o anonimato.

Trocou-se, neste caso, a sensibilização objetiva para uma ação voluntária da população por uma imposição duvidosa do ponto da ordem jurídica, lançando medos inusitados e a repulsa social.

Vamos ver como acaba, nesta torrente de uma crise sanitária sem precedentes e em relação à qual ninguém consegue antever um desfecho. Presumo que se os casos aumentarem, se os óbitos continuarem a este ritmo e com os hospitais a somar internamentos graves, não teremos que voltar a privar-nos de uma liberdade que não se deseja. Bem pior que colocar, com regras, no nosso telemóvel uma ferramenta que pode ajudar a minimizar riscos e a controlar o descontrolado avanço deste maldito vírus.

Raul Tavares
Diretor