Esta segunda vaga da Covid 19, anunciada desde há muito, está a toldar o raciocínio de muita gente. Ouve-se de tudo e, segundo uma grande parte dos comentadores (excluo os especialistas), se a estes lhe coubesse até teriam achatado a curva das infeções, encurtado as taxas de letalidade, evitado muitas mortes e por aí fora…
Não sou grande entendido em matéria de saúde, mas pelo que acompanho da informação privilegiada que o trabalho jornalístico me oferece todos os dias, tenho uma certeza: Dificilmente se faria melhor no atual contexto e dificilmente se tomariam decisões políticas assertivas.
Este é um tempo de verdadeira incerteza, desconhecimento, ilusão de capacidade humana em saber lidar com tudo e mais alguma coisa, e negritude face ao controlo do comportamento das massas. É uma provação, com consequências nefastas, cuja gravidade está, neste momento, num crescimento vertiginoso, a fazer fé nos estudos que correm nos corredores de analistas e matemáticos. Sim, toma-se a matemática como uma ciência exata.
Não desgosto da atual ministra da Saúde e até simpatizo com a sua frontalidade. Não sei se podia fazer mais e melhor (pode-se sempre, na verdade), mas neste contexto é aceitável que correr atrás do prejuízo é a única forma de agir.
Depois da investida da primeira vaga, cada português pensou ter sido ultrapassada a pior das barreiras, quis gozar o calor veraneio, e deixar o assunto mais para o inverno. Mas, este corona não fez férias, nem deixou de usar o dia e a noite para albergar-se a seu prazer junto de quem pode. Milhões de nós andaram por aí, despreocupados, em lazer férreo. Isso sim, a ligação ao vírus, era previsível em todo o lado, aqui e em toda a Europa e no resto do mundo.
Temos mais meios, estamos melhor preparados, mas não temos ainda tratamento chave, muito menos vacina. O Governo falhou? Tenho dúvidas em afirmar isso, num mundo onde, ora se fecha e confina, ora se abre e se desconfina. E a economia a definhar a cada segundo.
No meio de tanta opinião, não há meio termo. E o debate ideológico é um circo de papagaismo e loucura pegada, onde nem falta um oportunismo corporativista insano. Haja paciência, sensatez e muita resiliência.
Raul Tavares
Diretor