Inteligência Coletiva

Não é a primeira vez que aqui escrevo sobre as escolhas que as instituições, as empresas e a sociedade civil alentejana têm que fazer agora, para podermos superar a crise e aproveitar bem os recursos que os programas de financiamento europeus, nacionais e regionais vão aportar à nossa região, para a modernizarmos, a transformarmos e a tornarmos mais atrativa ao povoamento e ao investimento, sem pormos em causa a sua história, o seu património e a sua identidade.

O acervo de reflexão sobre os cenários possíveis para o desenvolvimento da região é vasto. Foram encomendados estudos a reputados especialistas e realizados debates e consultas públicas, nos quais também me foi dada múltiplas vezes a oportunidade de participar.

A governação política em contexto democrático é a arte da escolha com base em valores, em princípios e em mandatos legitimados. A emergência da brutal crise pandémica veio trazer mais luz sobre as escolhas transversais que temos que fazer.

Tenho noção de que se aproxima um ciclo eleitoral autárquico e que a pressão para concretizar obras e projetos com visibilidade territorial localizada e física será profunda e até legítima, dados que muitas delas fizeram parte dos programas políticos sufragados. Contudo, sem garantirmos uma subida da nossa inteligência coletiva enquanto região, todas as outras ações perderão valor, profundidade e eficácia.

Sintetizo neste texto, três patamares em que temos que apostar de forma integrada e transversal se quisermos estar aptos a estar na primeira linha da reconfiguração económica e social pós-pandemia.

Em primeiro lugar temos que garantir o acesso universal à internet de alta qualidade, não apenas como uma possibilidade tecnológica e económica, mas também como uma qualificação de uso e benefício, designadamente aos serviços públicos e de interesse geral através dela disponibilizados.

Em segundo lugar temos que tirar partido da deslocalização inteligente que o recurso progressivo ao teletrabalho e à automação vai provocar, criando as plataformas de interligação que permitam que quem para aqui se deslocar e fixar beneficie da qualidade do território, sem ter que se desligar daquilo que considera fundamental aceder noutros territórios, por laços de identidade ou por necessidade de massa crítica específica.

Finalmente, numa síntese necessariamente breve, temos que entrelaçar a agenda social, a agenda digital e a agenda do clima, transformando, através das energias renováveis e dos novos modelos e tecnologias de produção, distribuição e armazenamento, o nosso território numa opção altamente competitiva para os investimentos em digitalização verde.    Teremos assim um Alentejo mais preparado, para competir e vencer no novo ciclo de desenvolvimento 2020/2030.

Carlos Zorrinho
Eurodeputado PS