O hospital, a pediatria e a incompetência

O Orçamento de Estado para 2021 prevê cerca de 26 milhões de euros para a construção do Hospital de Évora. Uma módica quantia a acrescentar aos 40 milhões de fundos comunitários já afetos. O atraso na adjudicação da obra tem sido dramático, com uma reprogramação à vista supostamente para conseguir mais financiamento europeu. O atraso desta obra tem consequências nefastas ao nível da qualidade do serviço de saúde atualmente prestado, das infraestruturas cada vez mais degradadas, e sobretudo ao nível dos recursos humanos especializados, cada vez mais escassos. E entende-se. Quem quer trabalhar e evoluir profissionalmente num hospital que funciona em vários edifícios em que os dois principais são atravessados pelo IP2? Com uma urgência sem nenhuma capacidade de albergar um número significativo de doentes, em que as pessoas se acumulam como cogumelos selvagens, sem respeito pela dignidade humana. Equipamentos obsoletos, uma rede de canalização de água em perigo de implodir e a instalação elétrica “por um fio.” O espaço envolvente sequer tem capacidade para a circulação segura das ambulâncias. O cenário quotidiano deste nosso hospital é vergonhoso. Para os doentes, para os profissionais de saúde e para as famílias.

O conselho de administração tem sido absolutamente incompetente na gestão do hospital e na identificação das suas prioridades. Mais do que isso, no reconhecimento das necessidades. Os problemas não são novos e o conselho de administração também não! Anda há uma década a provar que nada fez pela saúde dos alentejanos. Os atores políticos do território, os eleitos, desapareceram! Nem uma palavra! O Município de Évora, fazendo jus à maior inação das últimas décadas, permanece um túmulo.

A tremenda debilidade da gestão do hospital de Évora e a sua crónica incompetência, levaram ao grito dos médicos pediatras através da elaboração de um manifesto. A derradeira tentativa, presumo, de chamar a atenção dos políticos e altos responsáveis pela área da saúde no distrito. Ficámos, então, a saber que o serviço de urgência pediátrica foi convertido num balcão de pediatria e agregado ao serviço de urgência geral. Esta aparente simples alteração de designação torna possível e legal que as crianças que aqui recorrem não sejam observadas por um pediatra na região do Alentejo. Fica, a partir de agora, sem um único verdadeiro serviço de urgência pediátrica. A unidade de cuidados intensivos neonatais está sustentada no esforço dos profissionais e corre risco real de encerramento.

Nenhum alentejano pode aceitar este inqualificável retrocesso nos cuidados de saúde prestados às crianças, que verdadeiramente é a negação do direito à saúde que faz perigar a própria vida humana. Basta!! Os serviços públicos no Alentejo têm sido geridos, ao longo de décadas, por gente do aparelho socialista que fez do serviço público e do superior interesse dos cidadãos uma coutada política! Uma forma de catapultar as suas carreiras políticas com vista à exportação de “talentos”. Demógrafos a gerir a saúde; gestores na agricultura e sociólogos em todos os cargos. Mas zero especialistas a gerir a coisa pública.

Mas podemos ficar mais descansados. O conselho de administração do HESE veio informar, através de comunicado, que estão abertas 2 (?!) vagas para contratação de médicos pediatras…

Sónia Ramos
Presidente da Comissão Politica Distrital do PSD de Évora
Membro da Assembleia Municipal de Montemor-o-Novo