Nas últimas semanas, com mais ou menos confinamentos, recebi inúmeros emails da GNR dando conta de detenção de alegados agressores em casos de violência doméstica.
É um fenómeno que não quer parar e é uma vergonha nacional. Os números são assombrosos. Ainda não acabou o ano e já morreram no todo nacional trinta mulheres às mãos de cobardes, normalmente a coberto de chamados ‘crimes passionais’.
Desde há muitos anos que me envolvo neste combate em termos cívicos. É, aliás, a única causa pública a que empresto alguma da minha disponibilidade e alguma da influência que a minha atividade profissional propicia.
Tenho pena que seja, ainda assim, muito pouco. Lembro que há uns anos fundámos uma associação de homens contra a violência doméstica e andámos pelas escolas a insistir na mensagem de que não há amor nenhum que possa tolerar, aceitar ou mesmo compreender tão aviltantes relações. E participei em campanhas de publicidade com o mesmo fim. Alargar o combate da sensibilização para este fenómeno que não é de mulheres, nem de homens, é de toda a sociedade.
Esta guerra de posse e de poder já devia ter sido banida da civilização moderna. É uma demanda cultural que importa acelerar, num projeto de envolvimento comum, que possa exterminar estas formas de vida e este pensamento retrogrado e criminoso.
Para além das mortes, há milhares de famílias contaminadas com este vírus, num lastro de efeitos psicológicos, que é a pior de todas as violências. Pais e filhos numa partilha de medos e de horrores.
O Estado tem desenvolvido muita legislação e a justiça tem apertado medidas de combate a este conflito que abarca ainda muitas gerações, incluindo a violência juvenil, num mimetismo perigoso que se faz sentir, em particular, em violência no namoro.
É, por isso, um flagelo que deve ser combatido por todos, porque a todos importa. Combater esta falha na nossa sociedade é um dever e uma urgência.
Raul Tavares
Diretor