Partiu-se o espelho

Desde maio de 2020 até dezembro foram publicados inúmeros artigos científicos que apresentam os vários erros na gestão da pandemia em relação aos Lares de Idosos. Atraso dos serviços municipais de proteção civil na ativação dos Planos de Emergência, atraso na realização de testes serológicos e de pesquisa à infeção por SARS-Cov-2 (COVID-19), falta de apoio aos trabalhadores sociais, falta de recursos financeiros, falta de espaços para isolamento de infetados e falta de profissionais de saúde.

Em outubro era previsível a segunda vaga; tardaram os apoios aos Lares, só começaram a chegar em finais de novembro. No mesmo mês, os especialistas na reunião com o INFARMED alertaram sobre os elevados riscos de contágio nos jovens, na família, potenciais cadeias de transmissão nos Lares de Idosos.

No princípio de dezembro foram vários os especialistas que alertaram para os riscos do desconfinamento no Natal e para a elevada probabilidade dos trabalhadores sociais que são simultaneamente cuidadores informais, de disseminarem as cadeias de transmissão nos Lares de Idosos.

Se as Câmaras Municipais, que são responsáveis pelos serviços municipais de proteção civil, em vez de “derreterem” milhares de euros em iluminação e decorações de Natal, tivessem investido na desinfeção dos Lares de Idosos, não teria havido o elevado número de surtos e óbitos de norte a sul do país.

Em síntese, as decisões políticas sobre a gestão da pandemia falharam em toda a linha ignorando o conhecimento científico.

Quando um Presidente da República desvaloriza as orientações científicas em relação aos prazos para a realização de testes de pesquisa à infeção de SARS-Cov-2 (COVID-19) e faz três testes seguidos, não só coloca em causa as orientações da  DGS como “baralha” o povo sobre a eficácia dos testes.

Foi assim que se partiu a organização do trabalho em espelho dos Lares de Idosos e Hospitais.

ATUALIDADE
Paulo G. Lourenço
Investigador social/Membro da EUROCARERS