O papel dos municípios e sobretudo de cada um de nós

Durante a primeira fase da pandemia as autarquias e as comissões de proteção civil em cada um dos nossos concelhos tiveram uma relevância superior no combate à disseminação das infeções.

Nessa fase, o desconhecimento da doença e a sua cavalgada pisavam uma grande incerteza e apanhou todos de surpresa. A começar pelo Governo e pelas autoridades de saúde. E, claro, os municípios não estavam preparados para lidar com tamanha empreitada. Mas safaram-se bem. O trabalho estoico da maior parte dos autarcas da região foi exemplar.

Agora, com esta situação de catástrofe, estamos a assistir a uma segunda prova de resistência, embora de dificuldade acrescida por alguma titubieza das medidas vindas do topo do Estado.

Nesta situação tão devastadora para milhares de famílias e para a sustentabilidade do nosso sistema de saúde, a proximidade não deixa de ser um fator crucial. E não havendo polícias em excesso, antes pelo contrário, as autarquias e as forças da proteção civil devem continuar na linha da frente.

Agora que as escolas vão encerrar, seja por pressão política, seja por pressão popular, não devemos deixar ‘borrar a pintura’ e para que isso suceda é preciso controlo, mão firme e muita sensibilização. Porque é da rua que se leva o vírus para casa e temos que exterminar essa invasão.

O problema é que as autarquias precisam de meios financeiros porque, já na primeira fase da tormenta, tiveram que recorrer aos cofres locais onde não abunda fundos. É preciso que a ‘bazuca’ da União Europeia também contemple estas linhas da frente que as câmaras devem colocar no terreno.

Mas tal como ocorreu em março, a verdadeira essência do combate a esta pandemia depende de cada um de nós, tornados agentes de saúde pública, cumprindo regras e acautelando a saúde de terceiros. E sendo o mais fácil de fazer, sem custos de maior, parece ser a barreira mais difícil de transpor.

Não sei se foi o advento da vacina, se os maus exemplos, ou simplesmente acharmos que só acontece ao vizinho na porta do lado. A verdade é que olhar para a situação dos nossos hospitais, com ambulâncias prostradas à espera com doentes a precisar de oxigenação e o caos do desespero que se verifica nos seus corredores de urgência, devia chegar para um assomo geral de consciência na luta contra esta doença maldita.

Nas próximas semanas iremos continuar a assistir ao galopar de números que nos colocam na frente do desastre à escala europeia e mundial. Há ainda tempo de recuperar, evitar mortes e suster esta corrida de infeções. É altura de parar, ficar em casa, tratar dos apoios, cuidar dos mais desfavorecidos, sobretudo das crianças e jovens que só se alimentam no terreno escolar, e empreender, logo de seguida, a recuperação de tudo e de todos.

O que se pede é um último esforço, porque os portugueses já provaram a resiliência necessária para dar a volta por cima. Cuidemos de nós e de todos os outros.

Raul Tavares
Diretor