Aventuras e Desventuras várias do Sistema Empresarial

Um dos factores críticos do desenvolvimento económico a que se dá pouca atenção é o da qualidade do Sistema Empresarial (Sist-Emp). Este sistema em característica próprias diferentes dos da educação, da justiça, das qualificações profissionais, dos saberes acumulados, etc..

Empresarial, na asserção que lhe foi dada pelo economista J. Schumpeter, o seu criador, significa disrupção, ou seja uma capacidade de quem se afirma como empresário de inovar e agir de forma quase-revolucionária face aos padrões baseados noutros sistemas mais estáticos (como o artesanal, o de subsistência, o de planeamento político, o estatal, etc.).

Um dos grandes temas que devia ser analisado no Alto Alentejo é o da qualidade do Sist-Emp. Parte dos problemas com que a região se debate devem ser assacados ao modo como o Sist-Emp actua. Se um Sist-Emp não funciona bem, não é dinâmico, nem inovador, nem equilibrado nas suas relações internas e externas, a sociedade e a economia não podem funcionar bem.

Identificamos, em resultado da nossa experiência, oito grandes problemas relacionados com o Sist-Emp: i) Defenssismo: pouca abertura ao que vem de fora, quando não pura hostilização; ii) Monolitismo: baixo nível de diversificação na oferta; iii) Informalidade: baixo nível de formalização nas relações sistémicas; iv) Obscurantismo: confusão entre o sistema político e o Sist-Emp; v) Erratismo: Liderança errática e que tende a eternizar-se; vi) Patriarcalismo: o sistema parece estar refém de relações sociais baseadas em laços de sangue ou outros; vii) Amiguismo: sem surpresa, as coisas são sempre mais fáceis quando se é local e amigo; e viii) Imobilismo: a mudança significaria mudança de actores e de métodos e por isso a luta para a impedir toda e manter tudo como está.

Para cada um destes oito pontos poderíamos elencar uma ou várias “histórias”, que dariam corpo à tese defendida nesta crónica.

A mudança num Sist-Emp é um processo de uma dimensão incomensurável e fora do alcance de uma geração. Porque este sistema é daqueles que se refina durante um largo período de tempo até atingir um grau de coerência e uma coesão interna dos seus elementos capaz de o manter autónomo durante muito tempo.

É por isso que olhamos com muita preocupação para a configuração deste sistema no território: na sua actual configuração o Sist-Emp local e regional é totalmente irrelevante no que toca a influenciar as mudanças que seriam necessárias para inverter o curso do declínio social e económico.

Há algo que se possa fazer? Há, se houver vontade. Mas existirá essa vontade? Quando o tempo é consumido a especular sobre aventuras e desventuras?

Estêvão de Moura
Empresário / Ph.D. Gestão Univ. Lisboa