Onde é que você estava há 27 anos atrás?

Vivemos num mundo distópico sem turistas. Um mundo impossível de prever até março de 2020. O mundo de 1993. Exatamente como há 27 anos atrás.

Lembra-se como era então Portugal? Lembra-se do centro das nossas cidades? Lembra-se que mesmo em 1998 (Expo) não tínhamos hotéis suficientes e tivemos de alugar barcos-hotéis? Na altura uma trapalhada a lembrar as atuais trapalhadas das vacinas. Há coisas que não mudam, pois não?

No turismo 2020 como 1993. Recuámos em turistas e em procura a esse ano já tão distante. 27 longos anos dentro do passado.

E, significativo, 2020 também igual a 1978, o último ano em que as dormidas de portugueses foram maiores do que as dormidas de estrangeiros. Leu bem, 1978.

E então? Então não vos vou afogar num mar de estatísticas. Antes inundar-vos num mar de dúvidas.

O turismo não vai ser o mesmo, dizem alguns, a desejar, por tudo e por nada, uma despropositada redenção. Como se o turismo não fosse ele próprio uma “metamorfose ambulante”.

O turismo limita-se a seguir a vida e as suas tendências. A procurar novas motivações nos temas de sempre.

O turismo será mais verde? Claro que sim. Porque o mundo será mais verde ou não será.

O turismo sairá das cidades e confinará nos campos. Claro que não. O turismo continuará nas cidades, o ecossistema dos humanos. As cidades é que mudarão e terão mais atenção à escala, à mobilidade (das pessoas não dos carros) e à sustentabilidade.

Sustentabilidade que deixará de ser uma palavra vazia de conteúdo (espécie de conceito obrigatório em qualquer discurso ou qualquer estudo) e passará a preocupação principal.

As tendências do turismo são assim as tendências do mundo. Num momento em que o mundo e a sua diversidade são o desafio. Mudamos ou não sobrevivemos. E corremos o risco (o sério risco) de ser como o turismo de 2020: um mundo distópico.

PS: O Professor José Fernando Gonçalves deixou-nos.

Foi responsável pelo turismo na CM Setúbal; dinamizou e geriu a Casa da Baía; deixou a sua marca como Diretor-Geral da Associação da Baía de Setúbal.

O Professor José Fernando fazia e fazia acontecer. Passava ao lado das conversas, dos seminários abstratos e dos projetos sem concreto. Porque sabia que o importante é fazer, mudar, melhorar.

O Professor José Fernando fez um percurso e um caminho. Soube até mudar (e mudar é tantas vezes tão difícil) e completamente entender que o que conta são os resultados.

O Professor José Fernando faz falta.

Fica o legado e o exemplo. E porque o legado e o exemplo é tudo o que pode ficar o Professor José Fernando está connosco, em particular onde todos mais contamos: no futuro.

Turismo Semmais
Jorge Humberto
Colaborador