A olhar pelo seu “jardim”, é assim que o empresário Luís Oliveira e o artista urbano Gonçalo Mar quiseram retratar aquela que é uma das figuras mais acarinhadas pelos seixalenses – o “Ti João”.
“Ti João”, carinhosamente conhecido pelos seixalenses, é a cara da mais recente obra de arte do graffiter e ilustrador Gonçalo Mar. Num desafio lançado por Luís Oliveira, gerente do Acqua Seixal, ao criativo, os dois decidiram homenagear João Pedro Fonseca Ramos, figura bastante conhecida na cidade que, diariamente, zela pela limpeza da prainha.
A praia, que já foi chamada de Pantanal, começou a merecer a dedicação do “Ti João” há alguns anos, por amor à terra, sem pedir nada em troca. Ao Semmais, o gerente do Acqua Seixal conta que a ideia surgiu da vontade de consagrar o cuidador da prainha. “O ‘Ti João’ tem 83 anos e ainda hoje cuida da sua praia, que antes se encontrava em estado decadente”, conta Luís Oliveira, explicando que todas as manhãs o ‘Ti João’ saia de casa cedo para a limpar e tornar mais bonita.
“Lançamos o desafio ao Gonçalo de homenagearmos o ‘Ti João’ numa das paredes exteriores do Acqua, que prontamente aceitou”, afirma o empresário, adiantando que a iniciativa é um exemplo de que “nos devemos lembrar no futuro, de uma pessoa que fez um trabalho bonito sem esperar nada em troca”.
Quando confrontado com a ideia, o “Ti João”, conta Luís Oliveira, ficou sensibilizado e manifestou vontade de acompanhar o decorrer do trabalho, mas, infelizmente, devido a problemas de saúde não lhe foi possível, estando ainda planeada para um futuro uma inauguração formal da obra com a sua presença.
Representado em simbiose com a Natureza porque dela trata
De fronte para o rio, o “Ti João” aparece retratado com o olhar atento para aquela que é a sua praia. Há duas décadas ligado à arte, Gonçalo Mar diz ao Semmais que a inspiração para desenhar uma das figuras mais acarinhada pelos seixalenses veio da Natureza que tem vindo a ilustrar ao longo dos anos.
Mortalidade e ciclo da vida são dois temas que o artista tem imprimido nas ruas e que agora confluem num só, de carácter humano, no retrato do “Ti João”. “As flores surrealistas que dava às obras despegadas hoje fazem sentido no retrato do rosto humano, que fazem a ligação entre os humanos e a Natureza”, afirma, explicando que não faziam outro sentido se não adequar as flores que identificam o seu estilo à pessoa que da Natureza tratou. “A ideia de dar sem receber e de aproveitar as coisas da Natureza na altura certa são dois valores que faziam sentido retratar’”, esclarece.
O trabalho que se estendeu por mais de um mês, devido à sua complexidade, foi finalizado esta semana. Segundo o grafitter a obra foi feita em placas de contraplacado marítimo e, pelo peso, foi necessário calcular bem a posição para que não houvesse o risco de cair. Contudo, desde o início da recriação, quem por ali passava, diz Gonçalo Mar, reconhecia logo que era o “Ti João” que estava a ser desenhado. “É uma figura bastante emblemática e por isso era necessário eternizar a sua presença em frente aquele que é o seu jardim”, conclui.