O que se supunha já está a acontecer. Com o confinamento a fazer os números da Covid-19 baixar em velocidade cruzeiro, já se pede a abertura rápida e em força do país à rua.
A oposição política é crucial no sistema democrático e decisiva para que o povo possa, a cada eleição, medir o pulso aos governos e aferir alternativas. Mas nas atuais circunstâncias, é difícil governar neste muda-muda, ao sabor dos números, com crítica fácil e algum terrorismo de aproveitamento dos momentos.
Um dos mais eloquentes virologistas do país, Pedro Simas, anteviu, não há muito tempo, – após o descalabro da terceira vaga, que fez passar o ‘milagre português’ para o topo mundial no rácio de infeções por cem mil habitantes – que iríamos ser um dos países do mundo que mais depressa conseguiria controlar esta última fase negra da pandemia. E parece que acertou.
Hoje, os números estão em decrescendo, porque já está provado que a quebra de contatos é a única medida que trava, em absoluto, a correria do vírus. E, agora, nesta fase, é preciso muita ponderação relativamente ao inevitável desconfinamento, procurando modelos que deviam ter um largo consenso do espectro político nacional, porque a saúde pública não pode, nem deve, servir para gincanas partidárias.
As últimas sondagens parecem, aliás, confirmar que os portugueses não gostam destes aproveitamentos. Uma ladainha de crítica fácil que não aponta soluções e nem como fazer melhor.
Por bom senso, concordo que devem ser definidas bitolas pela comunidade científica a partir das quais o país deve iniciar o processo de desconfinamento faseado, controlado e monitorizado, com testagem em massa e um maior alavancamento da vacinação.
Daqui a uns meses haverá um largo período para a discussão política com a aproximação das autárquicas, onde se podem medir as lideranças partidárias e tratar das políticas locais. E, antes disso, há a ‘bazuca’ de fundos comunitários do Fundo de Recuperação e Resiliência, que deve ser alvo de debate político aceso e do contraditório.
É que nestes enlaces político-partidários as prioridades de governar e fazer oposição parecem trocadas, tornando inútil o combate entre quem decide e quem deve apresentar soluções alternativas.
Raul Tavares
Diretor