As Imagens do Pulo do Lobo

Para todos aqueles que retêm a imagem do som, da vibração, do cheiro… que envolve o Pulo do Lobo; é impressionante o poder da água que nos últimos dias venceu os 16 metros dessa cascata localizada no parque Natural do Vale do Guadiana. Um local verdadeiramente maravilhoso!

O Pulo do Lobo é daqueles locais que nos mobiliza os sentidos. Não é um espaço acético ou inócuo. É antes, um daqueles espaços que nos fazem sentir frágeis e vulneráveis perante as forças da natureza que estreitam e “tombam” o Guadiana, esse grande rio do Sul peninsular.

Estamos a falar de um espaço cuja visita nos permite a “produção” de imagens ou “padrões mentais” cuja relação sensorial nos irá alimentar o nosso arquivo de imagens de memória, num processo mental, cuja leitura de “O Sentimento de Si”, do neurocientista António Damásio (2013, pp. 377-385), nos ajuda a compreender. Um espaço que nos desafia a pensar, criar!

Ao pensar neste artigo e nas imagens que retenho do Pulo do Lobo, influenciado pelas boas notícias da chuva que caiu e correu até ao Guadiana nos últimos dias; mas também por um pequeno filme (13:21min) de Francis Alÿs, “The Silence of Ani” (2015), dei por mim a pensar nos desafios performativos que alguns espaços nos oferecem no Alentejo para a criação de imagens. O Pulo do Lobo é um desses espaços, e não só pela orografia.

The Silence of Ani condensa uma abordagem simultaneamente conceptual, poética e geopolítica, através de uma performance audiovisual nas ruínas da cidade de Ani. Uma antiga cidade da Arménia medieval, conhecida como a cidade das mil e uma igrejas, agora em território Turco. E também sítio arqueológico na lista de património da humanidade, da Unesco.

Na performance registada por Alÿs, as ruínas da cidade de Ani voltam a ser habitadas pelos sons das ocarinas tocadas por jovens, antes de regressarem ao silêncio do seu abandono, e à sua circunstância geopolítica. Este filme, poderosíssimo, consegue através da performance, da linguagem audiovisual e dos sons, enriquecer-nos o arquivo de imagens mentais sobre o património da humanidade.

O Pulo do Lobo é um daqueles espaços que ao longo dos anos tem carregado injustamente uma imagem metafórica de um “Portugal profundo”, na periferia do desenvolvimento, condenado a um certo abandono.

Mas, no Alentejo, espaços como o Pulo do Lobo são muito mais do que isso! São espaços de condensação de memórias e narrativas, com significado e relevância cultural para a produção de imagens que nos ajudam a uma tomada de consciência de nós próprios.

Após o confinamento, o Pulo do Lobo será certamente um dos primeiros locais a revisitar com os sentidos despertos a novas imagens.

Damásio, A. (2013). Sentimento de Si: Corpo, Emoção e Consciência. Círculo de Leitores

Aldo Passarinho
Professor Instituto Politécnico de Beja