O Ambiente de Negócios: A Variável Oculta

Na nossa última crónica escrevemos sobre a importância do sistema empresarial e salientámos o facto de a tibieza do sistema empresarial do Alto Alentejo constituir um entrave, ao desenvolvimento do território.

Considerando que o desenvolvimento do território pode ser visto como um triângulo (virtuoso) em que em cada um dos vértices colocamos: (i) o sistema empresarial; (ii) o ambiente de negócios; e (iii) as competências locais (os alternativamente os recursos endógenos) facilmente se percebe que se uma ou mais destas componentes não funciona de forma adequada (ou não se apresenta suficientemente robusta) não há desenvolvimento, mas sim estagnação e regressão económica.

Em muitas regiões de Portugal (quanto não no País como um todo) é isso que acontece.

Analisemos nesta crónica a componente ambiente de negócios. Esta componente do sistema de desenvolvimento económico é fundamental para que haja desenvolvimento e crescimento.

Um contexto dominado por um mau ambiente de negócios (já vamos ver o que é) não atrai investidores, nem investimentos e até provoca a fuga dos que em tempos aí arriscaram fazer negócios.

Pelo contrário, um bom ambiente de negócios é uma componente que os investidores levarão em linha de conta na hora de elaborarem os seus estudos e tomar decisões de investir num contexto territorial.

Nos últimos anos, criou-se a ideia de que são as autoridades locais quem cria o ambiente de negócios. Nada mais errado. Mas esse é um erro em que se insiste e se investe muito. Para nada.

Um ambiente de negócios capaz de promover o desenvolvimento é o resultado de décadas de actuação dos actores económicos e empresariais. É o corolário de uma cultura e de valores sólidos promovidos por quem actua dentro do sistema empresarial e não o resultado de quem está fora deste sistema.

Num bom ambiente de negócios são determinantes: (a) a confiança (entre os actores económicos); (b) a ética (de negócios); (c) a formalização (saber com o que se conta); (d) o respeito (pelos contratos e pelo produto); (e) a transparência (na concorrência e na competição); (f) a estabilidade (de outros sistemas, como o social); e (g) a não-interferência (a cada actor o seu papel).

Um território em que a maioria destas componentes se comporta muito mal, quando comparada com outros territórios, está a hipotecar o futuro. No presente, é essa a lição a tirar do passado.

Estêvão de Moura
Empresário / Ph.D. Gestão Univ. Lisboa