Bem sei que quem se dispõe a ler um artigo de opinião pretende dele recolher alguma validade. Tanto mais neste tempo em que ansiamos por dias melhores, sejam eles libertos deste sufoco em que vivemos no meio desta pandemia, seja porque depois de um tempo invernoso, desejamos que o sol nos aqueça e traga a luz que precisamos.
E assim sendo, redobra-se a dificuldade para que neste espaço se possa motivar o leitor e concretizar tal objetivo, quando é nossa intenção desde o primeiro momento, tentarmos conciliar a poesia com um texto que se enquadre na atualidade e tenha utilidade a sua inserção nesta revista. Dificuldades a que não foge este pendor do poeta, para se reconhecer e valorizar mais os últimos poemas que vai fazendo.
Entre a preocupação e a obrigação, descobri este poema que nos fala de uma e outra alegria enunciada num dia em que o sol despontou e deu folga aos campos encharcados e aos corpos retorcidos, aprisionados pelo confinamento obrigatório e pela chuva copiosa, mas benfazeja para o nosso Alentejo, em particular. Chuva que nos trouxe algum descanso e regalo pelo enchimento das nossas barragens como há muito tempo não se via.
Na verdade, “tudo parece uma quimera”, tal é o estado de espírito a que chegámos. Daí valorizarmos a “flor que desponta” tornando-se “símbolo do vigor da vida”. Esse mesmo vigor que, nos deve animar a não desistir e ter esperança, tornando a quimera um sonho e este, torná-lo realidade.
Avivados por “um canto de liberdade”, devemos acreditar que “mesmo inverno faz-se primavera”.
Uma flor desponta
Num campo cansado de chuva,
Dobra os dias invernosos
Como um canto de liberdade.
Soltam-se as aves planando
No céu limpo,
Abre-se o olhar para lugares distantes,
Renova-se o ar a pulmões cheios.
Tudo parece uma quimera
Todos os anseios são sua medida
Mesmo inverno faz-se primavera
E uma flor é símbolo do vigor da vida.
(Inédito)
José-António Chocolate
José António Contradanças
Economista / Gestor