Mau aluno – fala-barato -bom vendedor

Todos nós sabemos, porque já vivemos, porque já assistimos, porque já sentimos, que a uns, permitimos mais do que a outros, sendo mais condescendentes, fechando os olhos aos seus erros, falhas, sendo algumas bem graves, enquanto que a outros, nem a forma como respiram, costumamos perdoar.

Sempre me intrigou isso na política: a condescendência que os governos do Partido Socialista sempre gozaram, não foi a mesma, nem de perto, nem de longe, que os governos do PSD tiveram, eventualmente com a excepção dos dois primeiros governos de Cavaco Silva (a sua maioria relativa e a o início da sua primeira maioria absoluta).

Os sociólogos, historiadores e politólogos do reino haverão de explicar isso da melhor forma, qual  fenómeno etéreo, mas estando na segunda década do século XXI, o meu pequenino cérebro não consegue conceber como podemos ser mais críticos de um Pedro Passos Coelho, que com todos os seus erros de comunicação, tiques de algum autoritarismo e austeridade, acima do imposto pela troika, conseguiu tirar-nos da tormenta, onde outro nos colocou e, que mesmo assim, ainda haja quem elogie mais o causador dessa tormenta, do que quem nos tirou da mesma.

Anos depois de percebermos a manipulação, os esquemas de controlo do aparelho do Estado, da comunicação social, das fraudes em larga escala, para além da corrupção dos governos de José Sócrates,  ainda preferimos lembrar-nos de frases infelizes de um Primeiro-Ministro reconhecidamente competente (Pedro Passos Coelho)

Mas pior, por mais erros que António Costa cometa, que afectem directamente a nossa vida, parece que mais popularidade o mesmo tem. E não me venham falar da fraca oposição, da falta de opção que alguns alegam, porque por exemplo no tempo de Passos Coelho, a oposição era liderada por um António José Seguro, tão inseguro, tão inseguro, que caiu à primeira rajada de vento, enquanto que António Costa, depois de Pedrogão (só isso seria o suficiente, para nunca mais, nem dentro do PS, votar nele), ainda teve Tancos, os disparates na TAP, a incapacidade na gestão da construção do novo aeroporto e de tantos outros disparates, mesmo assim conseguiu ganhar umas eleições.

Nós não sabíamos, mas o pior ainda estava para vir: a pandemia, ou melhor, a gestão da pandemia, que da primeira ele não tem culpa, diria que fez quase tudo mal, mantendo uma directora da DGS, incompetente, errante e desqualificada, uma Ministra da Saúde impreparada, arrogante e incompetente, um Ministro da Administração Interna que assobiou para o lado por exemplo na caso do SEF (um escândalo nacional) e que só veio a público, devido a uma infeliz morte de um Ucraniano, uma Ministra da Justiça, que para além de todos os erros estratégicos, deixando a justiça à deriva, ainda resolveu somar um escândalo da nomeação do Procurador Europeu e, porque podia parecer pouco, a gestão do combate ao vírus, veio demonstrar toda a incapacidade de um governo, que em bom rigor, não nos governa, mas antes, anda a reboque da opinião pública (ainda por cima sempre tarde) e só decide, quando toda a população lhe está a indicar o caminho.

Sabem o que Costa parece? Aqueles alunos a fazerem uma oral em que o professor faz uma pergunta para a qual ele não tem resposta, mas todos à volta lhe vão soprando essa resposta, mas como se instala a confusão, apesar de todos os presentes saberem e lhe darem a resposta, ele não percebe e vai-se pondo a adivinhar o que lhe parece estar a ouvir: 10? 20? Hã? Ah 30. Pronto, professor é 30.  E lá acerta no resultado e depois ainda se vai ufanar de ter passado por saber bem a matéria. E o pior é que todos “compramos” essa ideia que ele nos vendeu, mesmo sabendo que é mentira.

UM CAFÉ E DOIS DEDOS DE CONVERSA
Paulo Edson Cunha
Advogado