A Igreja liderada pelo Papa Francisco tem mudado muito. Sobretudo porque tem feito reformas internas, necessárias e urgentes, com a coragem de mexer em algumas ‘capelinhas’ de interesses que têm mantido a Cúria Romana sob um manto de suspeições a vários níveis. Seja no corporativismo de bispos e padres e outros sacerdócios, seja na gestão de bens e riquezas à sua guarda.
É um Papa reformista, como provam alguns dos seus decretos, como dar mais funções às mulheres da Igreja, o novo estatuto financeiro, com a implementação de mecanismos de combate à lavagem de dinheiro, ou a tolerância zero à pedofilia no seu seio e fora dele.
Mudanças que se espelham também na forma como a sua narrativa ‘moderna’ tem contido a sangria de crentes verificada em outros Pontífices, afastados da realidade e dos tempos que correm. A juntar ao forte pendor que tem desenvolvido em nome de uma sociedade mais igualitária e ecuménica.
Para um Católico assumido como sou, que releva o papel insubstituível da Igreja na Fé e na Esperança como alimento vital e, mais importante, na frente social que tem feito parte da sua inigualável tarefa no mundo ao longo dos séculos, o Papa Francisco é não só uma lufada-de-ar-fresco, é também um farol a seguir.
Em 2015, a sua Encíclica “Laudato Sí, onde o Bispo de Roma critica o consumismo e o desenvolvimento irresponsável e faz um apelo à unificação global para o combate à degradação ambiental e às alterações climáticas, diz bem do fervor deste representante da Igreja de Pedro.
Agora, no coração da Quaresma, em tempo Pascal, Francisco retoma as preocupações mundanas, onde clama por um “contágio de esperança”, lembrando as chagas da humanidade presente e, também por elas, exortando à redução de sanções e cancelamentos de dívidas dos países mais vulneráveis e ao fim das guerras e dos conflitos que assombram o planeta.
“Este não é tempo para egoísmos, pois o desafio que enfrentamos nos une a todos e não faz distinção de pessoas”, lembra o Papa, em sábias palavras que nos deviam tocar a todos, independentemente das nossas crenças ou convicções políticas.
Mas é preciso coragem para fazer vingar esta mudança de rumo num mundo em que os privilégios se somam numa pequena percentagem dos humanos, que galgam sobre os demais, mantendo um arfar de indiferença, egoísmo, divisão e intolerância que é preciso banir das nossas sociedades.
Para muitos de nós, a Páscoa encerra essa reflexão de vencer medos, barreiras e destinos. Que assim seja!
Raul Tavares
Diretor