A navegabilidade do Guadiana em cima de mesa

Se as acessibilidades rodoferroviárias são decisivas para o desenvolvimento das regiões, porque são motores atrativos de empresas e de emprego, para além da dinamização da economia no geral, o mar e a navegabilidade dos rios são também uma aposta a considerar.

Não é em vão, por exemplo, que Sines tem dos mais elevados per capita nacional e concentra no seu seio e nas suas redondezas um dos maiores fluxos empresariais do país. E, não é menos verdade, que o Alqueva tornou possível um conjunto de investimentos na área do turismo, assumindo-se como uma mola exponencial no setor agrícola e polo de atração de muitas outras intenções de negócios.

Por isso mesmo, a aposta na navegabilidade do Guadiana, entre Espanha e o Alentejo Central, como refere nesta edição o edil do Alandroal, João Maria Grilo, não é despicienda e deve ser estudada rapidamente e acolhida pelo Governo, eventualmente, como sugere o município, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.

Ao que parece, nem sequer se trata de uma empreitada muito onerosa, tendo em conta as mais-valias estruturantes que um projeto com esta dimensão estratégica poderá oferecer. E a sua concretização alarga horizontes e aproxima esta nossa região tão carenciada de grandes metrópoles da Extremadura espanhola, gerando uma dinamização pendular entre regiões vizinhas muito considerável.

São projetos com esta visão que importa definir, no quadro de separar o trigo do joio no que se refere a investimentos públicos. Mas não podem demorar.

Até porque foi assinado, em 2019, um protocolo entre a Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos e a câmara de Mértola para se encontrar soluções para a navegabilidade do troço exclusivamente português entre o Pomarão e a vila de Mértola, ligando, por essa via, o Algarve e essa zona alentejana.

Na altura, a então ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, classificou a obra como “um dos investimentos mais emblemáticos” do seu Ministério, mas o financiamento e os alegados constrangimentos de natureza técnica e ambiental do projeto não deixaram de encalhar o seu desenvolvimento.

É das tais obras que justificam empenhamento firme e decisão clara por parte dos governantes, sob pena de se traduzir em avanços e recuos que ameaçam o desenvolvimento de que tanto se clama no Alentejo. E, neste aspeto como em tantos outros, é imperioso que haja planeamento integrado e vontade comum de autarcas, entidades intermédias e tutelas governamentais para que se não perca nem tempo, nem recursos.

PS: O Comendador Rui Nabeiro, fundador do Grupo Delta Cafés, comemorou 90 anos de idade e continua a ser um exemplo para o empresariado nacional. Dá gosto ouvi-lo falar sobre como gere os seus negócios e das relações que ainda mantém com os seus colaboradores. Já deu muito à região e ao país, numa forma de estar que evidencia como é tão especial fazer retornar à sociedade o que a sociedade ajudou a criar.

Raul Tavares
Diretor