Entre março e abril e a sedução pelo mais recente da escrita poética, escolhi para este artigo um poema que fiz e publiquei no dia 8 de março: Dia Internacional da Mulher. Um poema que me parece ter todo o cabimento também na data que se aproxima em que celebramos o Dia da Liberdade, o dia 25 de abril. Afinal a correspondência a este sentimento profundo de elogio, de exaltação e reconhecimento do papel da mulher na família e na sociedade.
Um poema que teve por motivo principal a minha mãe, o seu jeito e determinação, para o governo da casa e tratamento de assuntos de família, e a sua vontade inquebrável num caminho que levasse o seu “menino” a patamares superiores no estudo e na profissão. Claro que pelo meio, lembro-me dos tempos difíceis que muitos pretendem ignorar. Tempos de grandes dificuldades, enfrentadas por duas pessoas analfabetas: um trabalhador rural (meu pai) e uma costureira sem horas (minha mãe), iguais a tantas outras enfrentadas pelos portugueses na sua generalidade, em tempos de ditadura, de opressão, falta de liberdade, em que a jeira mal dava para o sustento da casa.
Honrar e enaltecer o papel da mulher não cabe certamente nestas linhas e será reduzido se não atentarmos a tudo o que se pretende dizer na conotação deste poema. A mulher, esse ser feito de “rija fibra que não teme o caminho pedregoso”, mas que tem “regaço tecido de carinho” e que é “casa abrigo”, amainando intempéries numa coragem determinada e sem tréguas.
Com todo o respeito por todas as mulheres, permito-me realçar o papel da mulher alentejana nesses tempos em que se enquadra a intenção deste texto e deste poema. Num tempo marcado pela míngua e pelo sofrimento, numa região massacrada pelo árduo trabalho, exposto à intempérie e mal pago, as mulheres alentejanas foram o decidido e decisivo “vertical umbral de antiga porta”. O meu obrigado. SemMais!
.Homenagem em Dia Internacional da Mulher
Mulher, a rija fibra que não teme
O caminho pedregoso que alisa,
O vento amaina e torna brisa,
A mão decidida que toma o leme.
Mulher, regaço tecido de carinho,
Vertical umbral de antiga porta,
Que o male espanta e suporta
A casa abrigo de todos o seu ninho.
Mulher, verdade no amor e na paixão,
A coragem sem tréguas descoberta,
A vontade viva que desperta
E faz do dia renovado sua razão.
(inédito)
José – António Chocolate
José António Contradanças
Economista / Gestor