Os Baluartes, o Território e a Candidatura

Com esta crónica conclui-se a abordagem em torno do triângulo virtuoso que permite a um território tornar-se competitivo em termos de atracção de negócios e desenvolvimento. A varável que falta analisar é a das competências locais (ou recursos endógenos).

A ideia mais contrária à de um território dinâmico, competitivo e sustentável é a de que possível que isso possa acontecer numa multiplicidade de territoriozinhos. Para revés de muitos territórios e sobretudo das pessoas que aí vivem, deixaram de viver ou foram coagidas a abandoná-lo é isso que está a acontecer em muitos territórios do interior.

Desperdiçar ou desvalorizar recursos endógenos em teriitórios onde estes escasseiam é uma atitude fortemente reprovável. Vamos a um exemplo real.

Está em curso, há vários anos, uma candidatura de várias autarquias a património da humanidade, sob a desiganção de Candidatura a Património Mundial das Fortalezas Abaluartadas da Raia.

O processo tem sofrido vicissitudes várias, inclusive a saída do grupo da autarquia de Elvas (que já tem classificada como Património Mundial da Humanidade as suas fortificações militares) e opacos avanços e recuos.

A questão de saber se o grupo de autarquias que está envolvida neste processo de valorização do património é o único que deve integrar esse grupo, já foi levantada. As fortalezas abaluartadas não são um exclusivo dos integrantes do projecto. Constituem recursos endógenos de várias terras em Portugal.

Existem pelo menos duas localidades que deviam estar nesta candidatura, porque preenchem os critérios da candidatura: possuem fortalezas com baluartes e estão localizadas na raia e que são Campo Maior e Castelo de Vide. Mas não estão lá.

A Comissão Nacional da Unesco, que supervisiona a integração destas candidaturas tem a obrigação de saber que as duas terras atrás indicadas são consideradas praças abaluartadas.

No caso de Castelo de Vide, embora o “progresso” tenha sacrificado parte dos baluartes e da muralha, o conjunto, com os seus quase 4km de extensão e a simbiose entre o moderno e o histórico, até constitui um bom exemplo de como é que o tempo transformou e integrou praças militares na malha urbana ao longo do tempo.

Campo Maior está a investir uma das somas mais significativas em termos de património no Alto Alentejo, dando um novo impulso ao seu conjunto monumental de muralhas e baluartes.

Criados para serem pontos de observação para o horizonte longínquo, os baluartes não podem, no presente, tornar-se exemplos de como se derperdiçam recursos endógenos em territórios onde estes escasseiam.

Estêvão de Moura
Empresário / Ph.D. Gestão Univ. Lisboa