Cimenteira do Outão dá passo de 86 milhões rumo à sustentabilidade

Investimento de 86 milhões de euros permite retirar combustíveis fósseis e aumentar eficiência energética. Novos equipamentos estarão a funcionar em outubro de 2022.

A fábrica de cimento da Secil no Outão, Setúbal, vai ser alvo de remodelações, num custo estimado de 86 milhões de euros, que a irão colocar, até outubro do próximo ano, como uma das principais unidades fabris do género em todo o mundo. As alterações previstas terão efeitos, sobretudo, no ambiente e também no aumento da eficácia energética.

De acordo com o presidente da comissão executiva da empresa, Otmar Hubscher, a empresa irá estar ao nível das melhores unidades do género em todo o mundo e, certamente, será a “mais sustentável da Europa”, uma vez que as emissões de CO2 serão reduzidas em cerca de 20 por cento, aumentando a eficiência energética em igual percentagem e conseguindo ainda gerar 30 por cento de eletricidade através de um sistema de recuperação de calor.

Em resposta a uma solicitação do Semmais, o presidente da comissão executiva referiu que a fábrica de Outão irá continuar a manter uma forte competitividade graças aos trabalhos que visam a redução de dióxido de carbono, cumprindo assim as determinações comunitárias. O projeto “inovador encontra-se já em fase de execução com a adjudicação de equipamentos e com demolições de antigas estruturas industriais, estando previsto entrar em funcionamento em Outubro de 2022”, salientou.

 

Projeto concilia tecnologias mais antigas com inovação

O salto qualitativo na cimenteira será conseguido através de um projeto denominado Clean Cement Line (CCL), o qual irá conjugar, pela primeira vez, tecnologias mais antigas com outras mais recentes e inovadoras.

Uma dessas novas tecnologias prevê a substituição dos combustíveis fósseis, que serão substituídos por alternativos. De acordo com as explicações técnicas da empresa estes últimos combustíveis irão constituir cerca de 70 por cento do que é atualmente consumido no Forno IX. Posteriormente os restantes 30 por cento passarão a ser de uma substância denominada Energreen, que é um biofuel que resulta da liquefação de combustível derivado de resíduos e que já está patenteado pela Secil.

Otmar Hubscher salienta também que a cimenteira vai dispor de um outro equipamento que irá permitir a recuperação do calor desperdiçado pelo forno. Esse calor será utilizado para gerar energia elétrica, sendo ainda associado a um campo solar e utilizado também para secar combustíveis alternativos.

A Secil passará também a utilizar um sistema de células de combustível com injeção pulsada de Gás Brown (hidrogénio e oxigénio). Este sistema, dizem os peritos, permite melhorar as condições de queima de combustível e, em consequência, melhorar a eficiência energética.

Ainda no que se refere à melhoria da eficiência energética e da secagem de combustíveis alternativos, será criado um campo solar térmico que vai gerar energia renovável fotovoltaica.

Os responsáveis da empresa explicam que numa primeira fase dos trabalhos, quando da construção e montagem dos equipamentos, a fábrica poderá dar emprego a 500 pessoas, sendo que numa segunda fase, a juntar aos 286 que atualmente se encontram no quadro, deverão ser somados mais sete elementos altamente qualificados e ligados à investigação.

Este projeto é financiado por fundos europeus, tendo sido assegurados 14,5 milhões de euros. A indústria cimenteira é considerada uma das mais poluentes em todo o mundo, sendo responsável por cerca de cinco por cento das emissões de CO2. “A sustentabilidade da indústria cimenteira europeia passa pela redução da sua pegada carbónica, reduzindo a utilização de combustíveis fósseis e aumentando a eficiência energética”, refere Otmar Hubscher.

 

Entrevista a Otmar Hubscher

As remodelações anunciadas para a fábrica colocam-na numa posição única em Portugal relativamente às questões ambientais. Que outras medidas poderão ser tomadas, tanto em termos ambientais como de eventuais aumentos de produção?

Este investimento no nosso projeto CCL – Clean Cement Line é o mais relevante projeto de investimento industrial do PT2020, destinado a reduzir a nossa pegada carbónica e a melhorar a nossa eficiência energética. A Secil está sempre atenta a formas de gestão mais evoluídas e sustentáveis, seja no transporte do seu produto por via ferroviária ou marítima, seja na crescente digitalização dos seus processos de produção e venda ou na operação das suas pedreiras.

Este projeto foi considerado PIN – Projeto de Interesse Nacional e é apoiado pelo PT2020 pela sua elevada componente de inovação e investigação. Na Secil decerto que, nos próximos anos, teremos que continuar a investir nestas áreas para sermos ainda mais sustentáveis.

 

Há novos mercados? Quais?

Devido à nova fase do sistema de Comércio Europeu de Licenças de Emissão, o custo de CO2 pode prejudicar seriamente a competitividade da industria europeia de cimento, por isso temos que nos preparar com investimentos sustentáveis como este nosso CCL, para proteger a nossa capacidade de produção e de exportação, podermos manter os nossos mercados e conquistar novos clientes internacionais.

 

Qual o valor anual das vendas da Secil?

O valor consolidado de vendas da Secil, em todos os seus mercados, atingiu os 451 milhões de euros em 2020.