Questionada pelo jornalista Pedro Pinheiro no programa “Olhe que não”, na TSF, dedicado ao tema “A bazuca e a coesão do território”, em que debatia com o Presidente da Câmara de Braga, o Senhor Ricardo Rio, no passado dia 17 de março, a Ministra da Coesão Territorial Senhora D. Ana Abrunhosa, apresentou uma tese sobre a coesão territorial que merece alguma reflexão.
Que tese foi a apresentada pela Ministra da Coesão Territorial?
A seguinte: “Coesaõ territorial é isso mesmo. É nós percebermos que o interior tem problemas, muito diferentes do resto do país e que não é com soluções tradicionais que se resolvem a maior parte desses problemas e muitas das vezes nem é com recursos demasiado avultados […] para resolver os problemas. […] Numa perspectiva muito realista eu acredito que a coesão territorial significa que aqueles que lá estão, sejam muitos ou poucos, tenham de ter qualidade de vida e tenham de ter as mesmas oportunidades.”
Esta tese que até pode parecer simpática, na realidade não está isenta de alguma perigosidade para os territórios do interior.
A considerar que aquile é o único caminho a seguir deixará de existir quem se preocupe com políticas activas de atracção de pessoas para o interior. E consequentemente uma certa legitimação das políticas de não-atractivdiade que caracterizam muitos territórios do interior, centrados sobre si próprios e sem qualquer vontade de captar pessoas vindas do exterior, que são vistas como ameaças aos equilíbrios sociais existentes.
A questão do serem muitos ou serem poucos não é uma questão secundária, como se infere das palavras da senhora Ministra. Se se criar o hábito (já hoje em franca expansão) de orientar uma parte significativa das políticas locais para as clientelas locais o resultado vai ser catastrófico.
Um território sem pessoas ou com poucas pessoas, insuficientes para assegurar a sua identidade territorial ou as funções territoriais básicas (de que a senhora Ministra também falou) serve para quê? E serve a quem?
A pandemia vai mudar muita coisa. Duas delas são capazes de provocar mudanças sociais de vulto: as alterações nas formas de trabalho; e o fim do urbanismo caótico. Novas formas de trabalho e a vontade de voltar a ter qualidade de vida, de quem por estes meses “estoirou” nas cidades, são uma oportundidade para o interior do país.
Mas, quem cá está tem de perceber que são necessárias melhores políticas de integração de pessoas de fora, sob pena de elas não resistirem muito tempo.
Não acredito, que a senhora Ministra tenha, com a sua tese, mandado a toalha ao chão em matéria de (re)povoamento do interior.
Estêvão de Moura
Empresário / Ph.D. Gestão Univ. Lisboa