Trabalho em rede na formação de “Jovens STEAM”

O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) [1], na versão que Portugal apresentou a Bruxelas, justifica a nossa atenção e análise. Também eu lhe prestei alguma atenção “suspendendo a descrença” como por norma faço com a leitura destes documentos. Precisamos do seu impulso!

Ao consultar o PRR percebi que a palavra “rede” ocorria frequentemente. Por curiosidade, verifiquei que nas 143 páginas, a palavra “rede(s)” ocorre 246 vezes. Mais do que “recuperação” (181) ou “resiliência” (240). O que fazemos numa sexta-feira à noite…?

A vacuidade do exercício não me impediu de pensar sobre o significado da ocorrência. De olhar de forma prospetiva para aquilo que podemos esperar em termos de “reformas” e “investimentos” no que se refere à componente de “qualificações e competências”, e o papel das “redes” [e que redes?] nessas reformas.

À intenção de introduzir reformas no Ensino e na Formação Profissional, tal como nos mecanismos de “cooperação entre o Ensino Superior e Administração Pública e Empresas”, perspetivam-se investimentos que irão dar corpo a essas reformas (p.7). Das várias propostas de investimento, destacaria o “Impulso Jovem STEAM”.

Com uma dotação de 140 M€ de investimento, é objetivo aumentar o número de graduados no Ensino Superior nas áreas das ciências, tecnologias, engenharias, artes/humanidades e matemática (STEAM – Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics), naquilo que se pretende que seja um ajustamento da formação às transformações do mercado de trabalho e aos requisitos de empregabilidade (p.77). Este investimento irá servir para estimular iniciativas das instituições de Ensino Superior, que se proponham desenvolver consórcios com empregadores, no domínio da formação inicial baseada no desenvolvimento de projetos experimentais interdisciplinares e transdisciplinares às áreas STEAM.

Se internamente às comunidades académicas esta é uma oportunidade para incrementar a utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem ou “lidar com a compartamentalização” de áreas científicas; o desenvolvimento de consórcios ou trabalho em rede com empregadores, com outras instituições de Ensino Superior ou Profissional, poderá criar oportunidades para além do desenvolvimento de formações orientadas para suprir necessidades de mão de obra qualificada.

Se a formação em rede no âmbito do “Impulso Jovem STEAM”, em consórcio com empregadores e outras instituições de Ensino Superior e Profissional, nos desafiar a descentrar dos currículos, da compartimentalização das áreas técnico-científicas, dos muros das instituições e, em simultâneo, nos permitir contribuir para a formação de indivíduos culturalmente sensíveis e socialmente participativos, então estamos perante um desafio bem-vindo!

[1] https://www.portugal.gov.pt/pt/gc22/comunicacao/documento?i=recuperar-portugal-construindo-o-futuro-plano-de-recuperacao-e-resiliencia

Aldo Passarinho
Professor Instituto Politécnico de Beja