O Webinar promovida pela Terras Dentro – Associação para o Desenvolvimento Integrado, refletiu sobre os atuais desafios às políticas territoriais de desenvolvimento em meio rural e a relevância estratégica, capacitação organização e a dinamização de redes de atores.
A iniciativa sobre Competitividade e Inovação no Alentejo interior, que decorreu via plataforma Zoom a 14 de maio, contou com o orador convidado Raúl Lopes, professor do ISCTE-IUL, que deixou um aviso claro aos participantes sobre a competitividade e inovação, em tempos de globalização, temáticas desta sessão. “A chave da competitividade hoje, é a capacidade de inovação e a capacidade de incorporar conhecimento daquilo que se produz”, sublinhou. Face à globalização que provocou a mudança do contexto económico mundial, “a problemática da competitividade tem de ser reequacionada do ponto de vista teórico e prático e, hoje em dia, a chave, o suporte da competitividade, seja das empresas ou dos territórios, é a inovação e não os custos de produção, nomeadamente os custos salariais”, disse o Raúl Lopes durante a sessão.
Ainda sobre o papel da globalização e o impacto em regiões como o Alentejo, o orador convidado afirmou ser “um processo pluridimensional onde nem sempre é fácil estabelecer diálogo sobre este assunto porque os interlocutores falam linguagens diferentes” acrescentando que “a globalização não é uma coisa simples, não é só comprar e vender no mercado internacional. Quando falamos de globalização, falamos de um novo paradigma da organização da economia mundial, um paradigma mais complexo onde os sistemas se interconectam”, afirmou.
Apesar dos aspetos negativos da globalização, “também tem aspetos positivos e que não podemos negligenciar. Em especial, naquilo que a globalização veio abrir em termos de novas janelas de oportunidades aos territórios locais”. Exemplo disso, segundo o professor do ISCTE, é o Cante Alentejano, património da humanidade, que “não o seria seguramente se não fosse a globalização, se não fossem os tais canais de difusão mundial de novas expressões culturais e musicais”.
De acordo com o especialista em Economia do Território, tendemos olhar para a globalização como a afirmação de um conjunto de megaempresas, as grandes multinacionais americanas ou mesmo alemãs, “mas quando fazemos um zoom sobre elas, vamos perceber que estão ancoradas territorialmente e não dispensam um forte relacionamento com o seu território de inserção”.
Mas ao lado destas megaempresas também encontramos espaço para pequenas unidades de produção, que “são segmentos de atividade competitivos à escala mundial devido às dinâmicas de organização territorial, como por exemplo os vinhos do Alentejo, considerados como dos melhores do mundo, o que tem a ver com características específicas que emergem do território e dinâmicas organizacionais dos atores que permitiram alavancar a produção local para a colocar no mercado mundial. Isto só acontece porque existe globalização. Se assim não fosse, continuaríamos em mercado fechado”, afirmou Raúl Lopes.
O orador convidado da sessão vai mais longe e deixa um aviso sobre a questão das exportações. “Mesmo que uma empresa não aposte na exportação, temos que nos preparar para enfrentar a concorrência mundial, porque as empresas de outros continentes virão colocar os seus produtos à venda na nossa rua. E, portanto, sofremos essa concorrência mesmo que não se exporte”.
Relativamente ao mercado alentejano, Raúl Lopes diz que “quem definir as suas estratégias na base de informação regional e local está condenado a sofrer muitos dissabores, porque o que comanda a dinâmica da procura das empresas nas mais variadas áreas, é a dinâmica do mercado mundial”.
O desafio que se coloca às regiões hoje, não é o de concorrerem com as regiões vizinhas, mas cooperarem entre si. Mais do que homogeneizar, é preciso valorizar a diversidade e fazer dela um fator de coesão territorial. “É essencial ter uma dinâmica de sinergias inovadoras, capacidade organizacional e capital relacional pois são os trunfos competitivos não transferíveis”, avançou o professor.
Fernando Romba, o secretário Executivo da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL), nos comentários à intervenção do professor Raúl Lopes salientou que no Alentejo o “que faz falta é juntar as pontas soltas. Temos aqui muitas infraestruturas e, de facto, o que falta às vezes para o território, é ter uma estratégia que nos diga por onde ir para cumprirmos essa estratégia”, sublinhou e deixando pistas para esta década da CIMBAL, as quais vão ser à volta da agricultura e da agroindústria, do turismo e ainda da atividade mineira da região.