O ‘centrão’ está populista

O aparecimento do populismo é um desses desvios trazidos por uma Europa de navegação à vista, onde tudo serve para colocar em causa o sistema e dinamitar as pontas soltas de uma democracia que já foi melhor cuidada.

O fenómeno parece não ser totalmente residual e em bolha, já que extravasa muitas bolsas ideológicas e explora a natural contestação política, o fervor partidário e, bem pior, as fragilidades sociais.

Mas o pior é que parece estar a contagiar parte do nosso espetro partidário, que nos palcos mediáticos vai aproveitando as mesmas ferramentas para atingir fins políticos.

É o caso das últimas investidas do PSD de Rui Rio contra a nomeação de Pedro Adão e Silva para chefiar a comissão das comemorações dos 50 ano do 25 de Abril de 1974.

Não é caso virgem, e também já aconteceu com os socialistas no que toca a nomeações para lugares de empresas públicas e outras honrarias de Estado. Mas é um sinal perigoso deste ‘centrão político’ que na desdita partidária também entra no jogo do politicamente correto e do populismo que fica bem e caça votos.

Sempre defendi duas saídas para esta onda de lugares e troca de cadeiras. Os partidos – elos fundamentais da fileira democrática – devem ter os seus quadros bem preparados para o exercício de funções públicas. Escolhas de confiança, alinhadas com a ação programática de quem nos governa. E, na sua esmagadora maioria, devem cessar funções à medida da alternância de poder. A outra, é o recurso aos quadros apartidários da sociedade civil que devem ser chamados à causa pública o mais possível e aceitar esses contratos de missão sem conivências.

Esse segundo caminho tem vindo paulatinamente a verificar-se e deve ser robustecido. Mas o primeiro é viável e não lesa a pátria, se for transparente.

Deixa-me sempre desconfortável o ataque pessoal só porque sim, em nome de um populismo que não devia estar a fazer escola e, pelo contrário, justifica um certo combate.

Com esta cruzada sobre a figura de Pedro Adão e Silva, promove-se a fragilização do lugar, coibindo-se a sua ação pelos olhares e holofotes partidários. Não havia necessidade.

Raul Tavares
Diretor