Até quarta-feira o número de contágio era de 326 por cada 100.000 habitantes. Conselho de Ministros decidiu ontem restringir ainda mais a reabertura, com encerramento de restaurantes e estabelecimentos às 15h30 aos fins de semana.
O surto de Covid-19 que foi detetado em Sesimbra no início do mês está a causar sérios problemas no comércio local, sobretudo no setor da restauração. Os dados mais recentes coligidos pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) referem que, na última semana, alguns restaurantes da vila tiveram quebras de produtividade na ordem dos 60 e 70 por cento. As notícias não são animadoras, uma vez que o concelho ultrapassou os 240 infetados por 100.000 habitantes (o mínimo para não se passar para uma fase de desconfinamento mais restrita), sendo que o Governo fez baixar o município para um nível inferior, sujeito a medidas da 4.ª fase do plano de desconfinamento, o que representa menos horas de trabalho para todo o comércio e serviços. Neste caso, haverá encerramento às 15h30 aos fins de semana.
Em declarações ao Semmais, o presidente da câmara municipal, Francisco Jesus, disse que “este é o momento de fazermos tudo para inverter a situação e, de algum modo, ainda tentar ganhar o verão”, justificando desse modo a tomada de posição que irá restringir o funcionamento de diversos serviços e comércio. “Temos consciência que estas medidas, agora decididas pelo Governo em reunião de Conselho de Ministros, afetam economicamente ginásios, restaurantes, hotéis e diversos outros serviços, mas a verdade é que são medidas que são tomadas em defesa do bem comum”, adiantou.
O autarca salientou a importância dos testes rápidos que já estão a ser efetuados, mas lamentou que nem todos os pais dos alunos de Sesimbra tenham autorizado a realização dos mesmos. “O argumento de que é o último dia de aulas não explica a recusa em autorizar os testes e todas as pessoas têm a obrigação de tentar ajudar a controlar a pandemia”.
AHRESP defende aplicação de multas como medida mais eficaz
“A restauração é sempre o setor que mais se ressente e, com medidas como a diminuição dos horários, é evidente que as pessoas acabam por se afastar. A câmara de Sesimbra veio expor a situação nas televisões e isso também contribuiu para que muita gente se afastasse”, sintetizou ao Semmais o delegado da AHRESP no distrito, Daniel Piedade.
“A medida mais acertada seria combater os focos da doença no espaço público, multando, por exemplo, as muitas pessoas que circulam pelas ruas sem quaisquer cuidados, não respeitando distanciamento e, muitas delas, não usando sequer as máscaras”, adiantou o mesmo responsável, salientando que há, no distrito de Setúbal, muitos restaurantes que acabaram por fechar devido aos surtos. “Não me parece bem que a restauração tenha de reduzir horários de funcionamento, sobretudo porque é neste setor que mais cuidados preventivos são tomados. Há constantes operações de limpeza e desinfeção e cumprem-se as regras de distanciamento de um modo escrupuloso. Tão rigoroso que, na segunda-feira, houve mesmo problemas com um grupo de cerca de 20 pessoas que queriam entrar num snack-bar cuja capacidade não o permitia. Culminou numa sessão de pancadaria, com algumas pessoas a terem de receber tratamento hospitalar”.
Daniel Piedade refere, por outro lado, que a pandemia está igualmente a prejudicar a restauração por “não existirem pessoas, com ou sem formação, que queiram trabalhar”. “Um ajudante de cozinha pode ganhar 750 euros. Mas tenho conhecimento de um anúncio onde são oferecidos 1.000 euros por mês, mais alimentação, e não aparece ninguém que queira o lugar”.
Hotéis do concelho ainda não sentem muito os efeitos da crise
Mais desafogada parece ser a situação nas unidades de alojamento. Célia Pereira, diretora do Hotel dos Zimbros, disse ao Semmais que o anúncio do aumento dos casos positivos em Sesimbra não teve grande influência no primeiro fim de semana. “Nos dias que se seguiram houve então alguns cancelamentos, mas agora, depois de uma ligeira quebra, estamos a verificar uma recuperação. Para este fim de semana os números continuam a ser simpáticos, pese o facto de ainda existirem alguns dias por preencher”, adiantou a responsável pela unidade hoteleira com 37 quartos e que tem nos portugueses os principais clientes. “São cerca de 80 por cento”, afirma.
Acréscimo de clientes portugueses é também o que se verifica no Sana Sesimbra Hotel, com os 100 quartos já todos lotados para o fim de semana. “Noto que há mais clientes portugueses”, explicou a rececionista Bruna Goinhas.
Face ao grande aumento de casos positivos (segundo Francisco Jesus o concelho terá agora 326 infetados por cada 100.000 habitantes) a Câmara Municipal de Sesimbra já anunciou diversas medidas preventivas. Estas medidas incidem, sobretudo, junto dos estudantes e também dos pescadores, setores da população onde têm sido detetados mais casos. Segundo apurou o Semmais, o foco inicial desse contágio terá tido origem num ginásio do concelho.
Ontem, quinta-feira, os serviços municipais deram início à realização de testes aos alunos do ensino secundário, enquanto que hoje serão os pescadores, na zona do porto de abrigo, a submeterem-se à despistagem do vírus.
Também os funcionários do município estão a ser alvo de especiais atenções, tendo sido decidido que todos trabalhem a partir de casa.