Crónica de um Achamento

Esta é a crónica de um achamento dos tempos modernos. Um achamento tão importante que foi reportado nos meios de comunicação de todo o mundo. Em Bruxelas o POLíTICO, a plataforma mediática mais influente da bolha institucional europeia titulava que “Portugal parece dominar as ondas novamente (Graças ao mar profundo)” e complementava o destaque afirmando que “a conexão por cabo UE-Brasil é crucial para os planos europeus de ganhar controlo sobre o trafico global na internet”.

Os meus leitores mais atentos, neste e noutros espaços, sabem que esta não é a primeira vez que escrevo sobre a importância da amarração do EllaLink – cabo submarino de fibra ótica que desde 1 de janeiro liga Portugal e o Brasil, com amarrações em Fortaleza e Sines, nem sobre as perspetivas de novos cabos virem a confluir em Sines, tornando Portugal e o Alentejo centralidades estratégicas na geopolítica dos dados e na economia emergente.

Comecei a escrever sobre este tema ao mesmo tempo que, nas minhas funções de representação no Parlamento Europeu acionei todos os meios ao meu alcance para criar condições favoráveis a este desfecho, aproveitando o facto de ser efetivo na Comissão Parlamentar (Comissão de Indústria, Investigação e Energia) que tem a competência sobre as infraestruturas digitais (e também de energia) e de ter sido até 2019 Vice-Presidente da delegação interparlamentar União Europeia – Brasil.

Tanto insisti com perguntas escritas ou espontâneas nas diversas reuniões que a certa altura os responsáveis que vinham à Comissão ou à Delegação já traziam a resposta preparada. Sem detalhar, para não ser injusto, tenho consciência de que sem o apoio político e financeiro das instituições europeias, o projeto não teria chegado a bom porto.  Celebremos o seu arranque e trabalhemos para que não seja o único, como tudo indica que não será.

No passado como hoje, o achamento de novas rotas sempre deu contributos para o progresso das relações entre os povos, ainda que nem sempre de forma equitativa, gerando riqueza e também desafios de mútua articulação e convivência. As infraestruturas tecnológicas devem servir as prioridades do desenvolvimento, em particular as parcerias entre iguais para o desenvolvimento científico, económico, social e ambiental.

Num momento em que o debate sobre o controlo da qualidade da informação, o combate à desinformação e as ameaças tecnológicas à segurança, está cada vez mais na ordem do dia, o novo cabo é também uma oportunidade para aplicar as normas éticas e regulatórias de cibersegurança que decorrem dos valores da UE e procurar dar-lhe valor global.

Não comecei a escrever a crónica deste achamento no dia da sua ligação. Também não a termino aqui. Suspeito que sobre ele ainda vou escrever muito, neste ou noutros espaços. Sem Mais.

Carlos Zorrinho
Eurodeputado PS