Odemira, Alentejo Singular

O concelho de Odemira lá vai vencendo a resistência da COVID-19, retomando o seu espaço mediático de um Alentejo Singular. Precisamos desse Alentejo Singular! Precisamos desse Alentejo que nos resgata para umas merecidas férias de celebração da vida ante o dramatismo de um sudoeste que nos tomas as razões do coração. Voemos até lá!

Há uns anos dediquei-me a reunir clipes de vídeos promocionais do Alentejo, pelo puro prazer de confrontar a minha experiência pessoal com as narrativas visuais produzidas, procurando compreender o papel da imagem nessas narrativas. As teorias da imagem alimentaram a curiosidade sobre o que queriam essas imagens, como comunicavam através do seu sistema de símbolos ou signos e o poder de afetar as emoções, o desejo de quem as produziu ou provocado no espectador (Mitchell, 1996) numa referência que guardo do processo.

Mas voltando ao Alentejo Singular, expressão de um desejo de quem o produziu e realizou o clipe “Odemira, Alentejo singular”[1] (2013), também ele uma promessa de emoções e prazer. Um vídeo que nos suscita o desejo de mergulhar no Pego das Pias ou na Ribeira do Torgal, ter um encontro com as esquivas Lontras, antes de visitar as praias de uma costa “simples, selvagem e arrebatadora”. Quero! Deixo-me convencer pela qualidade do storytelling não deixando de notar a imagem ausente da dureza do trabalho agrícola ou da pesca. Mas isso fica para outro momento de maior entrelaçamento com a experiência.

Mas claro, outros clipes de vídeo pontuam essa lista. Os incontornáveis “Alentejo Tempo para Ser Feliz” (2013), tocado aqui e ali por alguns clichés expressão do desejo; “Two Steps to Freedom” (2012) e Fall in Love With This Land (2018), ambos da Rota Vicentina com o mais recente centrado no testemunho da experiência. E claro, o premiado “Alentejo Caiado de Fresco” (2020) ou “Está na Hora de conhecer Beja” (2020).

É verdade que essa minha lista não é muito extensa e denota uma produção muito interessante por volta de 2012-13, sem desmérito criativo para os outros. De forma empírica, e sem aprofundar demasiado, diria que terá havido uma conjugação das possibilidades de financiamento à produção através dos fundos comunitários, com uma sensibilidade para a importância deste tipo de clipes de vídeo para gerar leds para os sites institucionais, provocando o desejo de conhecer o Alentejo, as rotas os locais.

Agora, como docente na área do audiovisual, sou da opinião que estamos num momento para investir na produção profissional de conteúdos de vídeos sobre o Alentejo. Em sentido literal! Uma visita ao site da União Audiovisual[2] faz-nos perceber que este é um setor que precisa urgentemente de trabalho, de projetos pagos. Em ano de eleições, uma mensagem para os candidatos: as autarquias têm a oportunidade de apoiar empresas de produção de conteúdos audiovisuais e, simultaneamente, transformar os “territórios” em espaços singulares objeto de desejo.

1 https://youtu.be/Q0ZqjNZ8o7w

2 https://uniaoaudiovisual.pt

Aldo Passarinho
Professor Instituto Politécnico de Beja