Já não é apenas um bairro associado à marginalidade. Agora há trabalho comunitário em prol dos residentes e do seu relacionamento. A oficina de construção civil, aberta há uma semana, tem feito furor.
Nas palavras de Smyle Ornelas, o Bairro da Bela Vista, em Setúbal, é “um diamante em bruto”. Marceneiro, este emigrante brasileiro que reside naquela zona há 14 anos, considera que “vão longe” os anos em que o bairro era conotado, quase exclusivamente, com o crime. No passado dia 22, em mais uma iniciativa incluída no programa comunitário “Nosso Bairro, Nossa Cidade”, a câmara municipal inaugurou ali uma oficina de construção civil: os moradores pedem uma reparação e Smyle ou o seu companheiro, Alberto Leite, compõem.
Instalada no número 5 da Rua do Antigo Olival, a oficina é o novo polo de atração do bairro. Ali acorrem, diariamente, vários residentes a solicitar a realização de diversos trabalhos, sejam de marcenaria, de canalização, de serralharia ou de pedreiro. “Fazemos o que podemos para ajudar quem nos procura”, diz ao Semmais Alberto Leite, considerando que este tipo de prestação de serviços, onde cada um “dá o que pode ou que entende”, está a contribuir para unir uma população que, quase sempre, era vista como sinónimo de problemas.
“O bairro hoje está como do dia para a noite. Novos e velhos dão-se bem e até a polícia tem muito menos trabalho”, refere Alberto Leite, que já reside na Bela Vista há 40 anos. “Esta ideia da câmara em auxiliar a instalação de oficinas que ajudam as pessoas só serve para melhorar a qualidade de vida de todos”, acrescenta.
Projeto visa promover a integração e coesão social
A integração e coesão social foi, de resto, o motor da iniciativa desencadeada em 2012, altura em que o projeto “Nosso Bairro, Nossa Cidade” nasceu. Quando da assinatura dos protocolos que permitem ter na Bela Vista, mas também no Bairro Afonso Costa, estruturas que dinamizam a vivência local, a presidente da autarquia, Maria das Dores Meira, salientou que os resultados já obtidos são fruto da colaboração entre moradores e câmara. “Hoje a regra nestes bairros é uma convivência bastante melhorada, que resulta do empenhamento de todos na melhoria das suas vidas e das condições em que ali vivem”, disse.
Essa mesma melhoria na convivência é também referida por Smyle Ornelas, brasileiro que reside na Bela Vista há 14 anos, depois de ali ter casado e já ter assistido ao nascimento de cinco filhos. “Se as pessoas não gostassem do que está a ser feito não procuravam os serviços da oficina e, principalmente, não elogiavam o trabalho da câmara, que cedeu o espaço e os materiais, para que seja possível acudir a todos os que precisam de algum serviço”, afirmou.
Smyle diz ainda que o futuro da Bela Vista, com todos os melhoramentos que estão a ser efetuados, seja através da pintura de edifícios, seja através do fecho do emaranhado de corredores que ligavam os diversos edifícios, fazendo dos mesmos labirintos onde se acoitavam todo o tipo de delinquentes, pode ser muito mais agradável. “A Bela Vista é um diamante em bruto. Temos cá técnicos, jogadores, estudantes. A imagem do bairro está a mudar e há muito mais pessoas que gostam de morar cá”, alega o emigrante vindo do Estado do Espírito Santo, referindo que em relação à oficina que partilha com o amigo Alberto Leite já se nota a adesão dos mais novos. “Os miúdos vão ver o que estamos a fazer e procuram aprender. Isso é bom. Pode ser que alguns deles, mais tarde, aprendam os ofícios”.
Para além dos protocolos que visam o trabalho, a autarquia desenvolveu também colaborações, no âmbito do projeto “Saúde no Bairro”. Uma parceria com a Maxiclínica permite, por exemplo, o acesso a consultas e tratamentos dentários a todos os residentes dos bairros municipais de habitação pública.