Investigadores suspeitam que o comendador, para proteger os seus bens da penhora, possa ter depositado quantias nas contas bancárias de alguns funcionários.
As contas bancárias de diversos funcionários da Quinta da Bacalhôa, em Vila Fresca de Azeitão, Setúbal, estão a ser escrutinadas por inspetores da Polícia Judiciária (PJ) que investigam Joe Berardo, o empresário que esta semana foi detido preventivamente por suspeita da prática de diversos crimes que lesaram três instituições bancárias nacionais em mais de mil milhões de euros. A PJ suspeita que algumas dessas contas pessoais possam ter sido utilizadas para esconder dinheiro e, em consequência, adiar ou fugir ao pagamento das dívidas.
Embora sem confirmação oficial, o Semmais sabe que na quarta-feira os inspetores da PJ estiveram na Bacalhôa, onde terão interrogado algumas pessoas e, ao mesmo tempo, tentaram inteirar-se do paradeiro de algumas obras de arte que possam vir a ser penhoradas como forma a garantir o pagamento da dívida. Os investigadores tentaram também reunir informação sobre a aquisição, em 2019, de um terreno com cerca de 30 mil metros quadrados, em Azeitão, e cuja finalidade seria albergar parte da valiosa coleção de arte de Berardo que antes estivera à guarda do Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
A visita dos inspetores à Bacalhôa terá sido ainda sustentada pelo facto de Renato Berardo, filho do empresário, ser um dos gestores do negócio vinícola da família, o qual está sediado naquele espaço (os vinhos Quinta da Bacalhôa e Quinta do Carmo são duas das marcas mais fortes do grupo Berardo). Renato, tal como o pai, o antigo advogado deste, André Luiz Gomes e o ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos, Carlos Santos Ferreira, são alguns dos 11 arguidos já constituídos no âmbito desta investigação, iniciada em 2016. Para além destas pessoas, estão indiciadas seis das mais de duas dezenas de instituições que são propriedade de Berardo.
A Quinta da Bacalhôa, também conhecido por Palácio dos Albuquerques, é um imóvel de elevado valor histórico, remontando as primeiras edificações ao século XIV. No século XVI, após a morte de D. Jerónimo Manuel, conhecido como o “Bacalhau”, foi herdado pela mulher, Dona Maria Mendonça de Albuquerque, a quem chamavam a “Bacalhôa”, sendo esta a origem do atual nome do local.
Com vários donos ao longo dos séculos, a quinta considerada como o mais belo exemplar renascentista da época, acabaria por se destacar na produção de vinhos, em 1970, quando era propriedade da americana Ornela Scoville. Mais tarde passou para a posse da Fundação Berardo, onde ainda se mantém.