Cartão Vermelho

O País vai a banhos completamente sobressaltado. Ia dizer deprimido, mas nós somos mais da área do inconsciente. Depressões, deixamo-las para depois, quando perdemos. Quando não há nada a fazer. Foi assim, por exemplo no Natal. Primeiro tínhamos de comemorar o Natal e ponto final. Depois via-se. E viu-se. Morreram muitos milhares de pessoas (directa e indirectamente e fomos todos remetidos ao confinamento salvador.

Já não chegava o recrudescimento dos casos de Covid, que o Governo depois de ter tudo controlado, na única forma que o sabe fazer – metendo-nos em casa como se fôssemos meninos mal-educados, resolvemos (alguns) mandar às malvas as precauções e meio País foi comemorar um título de futebol. Agora andam a investigar, mas todos sabemos que a culpa foi repartida – das autoridades que não souberam prevenir, nem antecipar cenários e também das pessoas, que se marimbaram para o Vírus. Este vírus, todos o sabemos, é especial – não ataca adeptos do Sporting (tadinhos, já não ganhavam há 19 anos).

Ora, que o vírus não atacava os “lagartos” era já a ideia que tínhamos (por isso eles não se preocuparam, ou seja, nem eles, nem as autoridades que se deviam preocupar), mas sabemos também que o vírus não ataca nos restaurantes durante o dia nos restaurantes, mas ataca aos fins de semana nesses mesmos restaurantes e durante algum tempo atacava também aos fins de semana a partir das 15h00. Nós sabíamos que o vírus era inteligente e mutava-se para entrar nos nossos organismos, mas não sabíamos que ele colaborava com as autoridades portuguesas. Bravo!

Temos também um governo que com a sua reconhecida capacidade de antecipação, para apenas para fazer asneira, deixou entrar os Ingleses, quando toda a Europa lhes fechou as portas. De tal forma que até permitiu que eles viessem jogar uma final da Liga dos Campeões que, pasme-se, o seu próprio governo não autorizou que esse mesmo jogo, com equipas do seu País, fosse jogado no seu País. Confusos? Também eu.  Mas perguntem à senhora ministra que ela tem uma explicação que envolve bolhas e que ainda estou a tentar perceber. Quando conseguir eu digo-vos. Lá para 2022.

Mais confusos ficámos quando esse mesmo governo nos fechou a porta na cara e proibiu viagens entre os dois Países, sem as restrições da praxe. O resto é história e a história diz-nos que depois destes novos erros históricos do nosso Governo, já estamos onde eles gostam – nos primeiros lugares do ranking Europeu. Só que a juntar aos primeiros lugares na corrupção, preço da gasolina, déficit, produtividade, formação superior, conseguimos juntar o de novos casos por cada 100 mil habitantes por dia. Chapeau.

Atrevo-me a concluir que o “Cartão Vermelho” que Luís Filipe Vieira e seus comparsas levaram do Ministério Público devesse ser levado por este governo que para tomar conta dos Fundos Europeus – entre eles a famosa Bazuca Europeia – vai estar nas mãos de um indivíduo que esteve nos conselhos de administração dos últimos bancos que deram buraco, ou seja, faliram – CGD, Millenium e BES e como prémio vai ser o chairman do Banco de Fomento. E, como a cereja no topo do bolo da inabilidade é ver o seu nome envolvido nestas trapalhadas de Luís Filipe Vieira.

Antes que pensem que eu estou a ser duro com este governo, quero lembrar-vos que estamos a falar do mesmo governo de Tancos, de Pedrogão, da morte do Ucraniano no SEF e todo o comportamento vergonhoso das autoridades, da gestão desastrosa dos trabalhadores imigrantes no parque de campismo no Zmar e do lamentável episódio da morte de um trabalhador, atropelado por um carro em que seguia um ministro e que não se dignou a dar uma palavra durante duas semanas seguidas, e não teria dado, não fosse a pressão da opinião pública

É também o governo que ainda esta semana recebeu a confirmação de que a sua indicação para procurador Europeu estava ferida de graves irregularidades e vai ter de admitir a procuradora que se queixou e que ganhou essa queixa.

Não é o mesmo governo, mas é do mesmo partido e do seu delfim político, o personagem que esteve por trás do escândalo da entrega das listas de manifestantes a um governo que aniquila os seus inimigos. Posto isto, a quem dava o cartão vermelho se pudesse?

UM CAFÉ E DOIS DEDOS DE CONVERSA
Paulo Edson Cunha
Advogado