A meio caminho entre os seis e os sete anos desde a fundação da Mascarenhas-Martins, continuamos a tentar. No início da próxima semana apresentamos uma nova temporada com várias novidades e uma regularidade mais próxima daquela que idealizamos. Continuar a tentar implica assumir que não estamos satisfeitos, que queremos ir mais longe, não só no que diz respeito ao que criamos, mas também na relação com a nossa cidade e concelho, Montijo, e a sua população. Na base da programação que preparámos mantém-se a vontade de produzir objectos (espectáculos e não só) que partam da necessidade de quem os propõe em intervir através da criação artística, sejam eles mais experimentais, por exemplo na procura por novas maneiras de pensar o que pode ser hoje a escrita para teatro, ou mais lineares e directos. Continuamos a acreditar na importância da liberdade de criação, por oposição a quaisquer tentativas de agradar ao público ou a programadores — mesmo que a defesa dessa liberdade constitua um caminho muito mais difícil do que ceder à tentação de ir ao encontro daquilo que poderia ser mais bem recebido. A nossa actividade é, de certa forma, oposta aos algoritmos que tentam influenciar as nossas escolhas a partir daquilo que conseguem analisar das opções que fizemos. Claro que também queremos agradar, mas a partir daquilo que somos e não de uma adaptação constante ao que supomos que esperam de nós. É a defesa das relações verdadeiras, por muito que nos custe, em detrimento das relações interesseiras a que estamos sujeitos em grande parte das interacções sociais e comerciais.
Nesta nova temporada vamos ter uma oferta mais vasta e diversificada, mais perto daquilo que desejamos desde o início, embora não ainda de uma maneira que possamos considerar ideal. Um dia havemos de ter um espaço em que nos seja possível apresentar as nossas criações e acolher artistas todas as semanas. Seja como for, nos próximos meses vamos poder encontrar-nos em diferentes espaços culturais no Montijo (e não só): nos concertos que iremos trazer à Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro; em espectáculos que apresentaremos no Cinema-Teatro Joaquim d’Almeida; ou na exposição que estará patente na Galeria Municipal do Montijo — com o apoio da Direcção-Geral das Artes, Câmara Municipal do Montijo e Junta de Freguesia da União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro.
Faremos um esforço suplementar para divulgar o nosso trabalho e ir ao vosso encontro, ainda que seja importante perceber-se que nenhuma estrutura de criação artística (sem fins comerciais) consegue fazer campanhas publicitárias equivalentes às dos festivais de Verão, serviços de streaming ou do cinema comercial — faço esta referência porque é habitual confrontar-me com o argumento de que as iniciativas culturais no Montijo são pouco divulgadas, mesmo quando existe informação na Agenda de Eventos e nos diversos meios ao dispor da Câmara Municipal, nas redes sociais e na imprensa local, regional e, por vezes, nacional. Há vida fora dos algoritmos, mas não entra, da mesma maneira, pelas nossas casas adentro.
Continuamos a tentar cumprir aquilo a que nos propusemos quando, em 2015, fundámos a Mascarenhas-Martins. E é provável que cheguemos ao fim, seja lá quando ele vier, com a mesma sensação.
À PARTE
Levi Martins
Diretor da Companhia Mascarenhas-Martins