Ainda hoje é lembrado pelo rosto do “Art Atack”, mas conta com um largo percurso no teatro dentro e fora de portas. Agora cabe-lhe a missão de dirigir o Teatro Nacional D. Maria II. É a nova aventura de Pedro Penim.
Com a adolescência carregada de esboços, traços e desenhos cumpridos, experimentou a arquitetura, mas esbarrou na barreira técnica da licenciatura. Não foram dois anos perdidos, mas deu para perceber que não havia rumo a seguir. O destino era a cena teatral.
Desistiu ao segundo ano da Faculdade de Arquitetura de Lisboa e não está arrependido. “Foi uma experiência, porque desde cedo o desenho e as artes ocuparam o meu imaginário, passava horas e horas a desenhar”, diz ao Semmais Pedro Penim, prestes, agora, a ‘encenar’ um novo rumo na liderança do Teatro Nacional D. Maria II.
Natural de Sesimbra, onde regressa de quando em vez, porque ficaram as raízes familiares e todos os cheiros de uma vida até à conclusão do ensino secundário, o ator de 46 anos de idade, fundador do Teatro Praga, em 1995, calcorreou muitos palcos, num percurso que diz ter sido “muito feliz”. “Sou um sortudo, porque sempre tive muitas oportunidades, que agarrei com abnegação e esforço. Mas nunca me cansei, nunca senti vontade de desistir”, afirma.
Muito jovem começou a viagem “com vontade de fazer teatro ainda como espetador”. Na Malaposta, na Coluna, no Trindade, convencendo, muitas vezes os pais a acompanhá-lo. Lembra duas peças que o marcaram e ajudaram a construir o sonho de seguir esse destino. “Conto de Inverno”, na Cornucópia, com Beatriz Batarda e gente muita nova no elenco; e a peça “Naque”, no Teatro Meridional. “Eram espetáculos muito intimistas. Deu vontade de estar ali, subir ao palco”, recorda.
Mais tarde, antes da rutura com a arquitetura, viria a experimentar cursos e workshops em companhias independentes, ingressou no Curso de Teatro do Conservatório e arrancou com o Teatro Praga, que ainda hoje considera “a sua casa-mãe” e o projeto da sua vida. “Dediquei-lhe muito tempo a partir dos meus vinte anos”, afirma categórico. Pode mesmo dizer-se que o seu percurso se confunde com o teatro que criou, uma das estruturas culturais mais prestigiadas do país.
A janela do “Art Atack” e os biscates da televisão
Pedro Penim galga para a ribalta quase sem dar por isso. Corria o ano de 1997, quando recebeu um convite para o Clube Disney. Dai a ser o rosto e a voz do “Art Atack” foi um instante. “O público não sabe que essa experiência foi muito residual, porque gravei tudo em três meses, num estúdio, em Londres. Em tempo útil foi muito pouco, mas parece ter ficado para sempre, como uma espécie de assinatura”, conta ao Semmais. E acrescenta: “Dá-me um grande orgulho, abriu horizontes e foi um processo muito enriquecedor”.
Seguiram-se inúmeras experiências na televisão, nomeadamente telenovelas e séries, mas muito poucas ficariam verdadeiramente marcadas no âmago do ator. “Eram biscates porque davam algum conforto e estabilidade financeira. Hoje posso dizer que as coisa de ficção que fiz eram de má qualidade e feitas à pressão. Não me deixaram saudades e se pudesse apagaria algumas do meu currículo com todo o gosto”, explica. Num desses ‘biscates’ chegou mesmo a pedir para “matarem” a sua personagem para acabar o sacrifício.
Mas o teatro, esse, nunca deixou de lhe correr nas veias e nos palcos. “‘O Art Atack’ foi uma espécie de segundo emprego e a televisão era secundário, residual. Nunca deixei de fazer teatro em nenhum momento da minha vida”.
Agora chega ao topo, com esta indigitação para liderar o Teatro Nacional D. Maria II. E, sem data marcada para assumir as funções, já tem a cabeça a fervilhar de ideias, mesmo tendo a estrear a peça “Pais e Filhos”, um clássico russo de Ivan Turguêniev, escrito e encenado por si, que deverá subir a cena no São Luís, a 15 de setembro.
A responsabilidade de tornar o Teatro Nacional como “espaço vivo que dialoga com o seu tempo”, a programação versátil que vai dos clássicos aos contemporâneos, o compromisso da dramaturgia portuguesa, o levar mais público ao teatro e dar-lhe uma certa itinerância, fazem parte do cartaz de Pedro Penim para cumprir esta nova dimensão cultural, social e ética de um cargo público que lhe chegou às mãos como mais uma missão para cumprir.
Rua das Gaivotas 6 e a mágoa de Sesimbra
Pedro Penim e o seu Teatro Praga ganharam um novo amor com a criação em 2015 do espaço Rua das Gaivotas 6, em Lisboa, que é uma espécie de antecâmera para novos atores, escritores e encenadores. Jovens talentos que, segundo diz, “precisam do seu espaço de consagração e de apoio”, lembrando os seus primeiros passos. “Era um gap que existia no mercado, porque não havia um espaço para este género de projetos”, explica. Multifacetado também continua a dar aulas no país e no estrangeiro. Com uma carreira já tão longa, com muitos êxitos no percurso, não deixa de lamentar nunca ter tido oportunidade de levar o seu teatro à terra natal: “Se há alguma mágoa que posso sentir em relação a Sesimbra é ter atuado uma única vez no Cine Teatro João Mota. Nunca houve nem proximidade nem interesse por parte das autoridades locais em relação ao meu trabalho. E, confesso, que em alguns momentos fiquei muito triste”.