Colocações nas escolas ainda é uma incógnita, mas quartos a 400 euros afastam professores

Ainda não é conhecido o número de professores em falta nos agrupamentos escolares. Sindicato acredita que muitos vão recusar a colocação porque o que auferem não dá para as despesas.

Ainda não é conhecido o número de professores que vão ficar a faltar nos agrupamentos escolares do distrito de Setúbal, uma vez que não se conhecem quantos aceitaram ou recusaram os horários e colocações. O que é esperado, pelos dirigentes do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL) é que muitos docentes não aceitem as colocações uma vez que o aluguer de um quarto, a compra de passe social e os custos dos combustíveis levam metade, ou mais, do vencimento.

“Um quarto no distrito de Setúbal pode custar 400 euros por mês. A este dinheiro temos de somar as despesas das deslocações a casa, as do passe social, entre outras. É óbvio que, à semelhança de outros anos escolares, muitos professores acabem por recusar as escolas onde foram colocados. O número total só será conhecido lá mais para diante, quando todos os agrupamentos escolares responderem ao questionário que o SPGL lhes vai enviar”, disse ao Semmais o sindicalista João Pereira.

“O que acaba por acontecer é que muitos docentes abandonam a profissão (foram cerca de 12 mil os que desistiram nos últimos anos sem que tivessem atingido a idade da reforma. Os jovens preferem ir trabalhar para um supermercado próximo de casa do que se sujeitarem a uma colocação a centenas de quilómetros que lhes vai fazer gastar quase todo o vencimento no aluguer de um simples quarto”, adiantou.

Para já, o único número do distrito que o SGPL tinha, na quarta-feira, relativo à colação de professores era o que se reportava a colocações para horários de sete horas semanais: havia 33 horários por preencher.

 

Maioria dos docentes no ativo tem mais de 50 anos

“Enquanto o Ministério da Educação não encontrar uma forma de compensação, seja através da atribuição de incentivos de deslocação, seja por via dos descontos no IRS ou através das ajudas para deslocamento, existirão sempre problemas de colocação dos professores. Vão existir sempre situações em que algumas turmas de algumas escolas irão chegar quase ao final do ano letivo com docentes por se apresentarem. Haverão disciplinas que ficarão desertas”, disse ainda o mesmo responsável sindical, lembrando que há dois anos as ajudas para o arrendamento chegaram a estar previstas no Orçamento de Estado, tendo a medida caído sem que fossem avançadas explicações.

João Pereira disse também que “é necessário que seja combatida a precariedade na profissão” sob pena de, dentro de alguns anos (previsivelmente em 2030) “o país perder 50 a 60 mil professores”.

“A situação no distrito de Setúbal corresponde, genericamente, ao que se passa no país, onde mais de metade dos professores têm mais de 50 anos de idade. Este ano concorreram mais de 34 mil professores, mas só 2.423 ficaram vinculados. A média de idades destes é acima dos 45 anos”, adiantou o mesmo responsável.

Há, na questão dos vínculos, situações que os próprios docentes consideram quase irreais. “O professor mais velho que este ano conseguiu o vínculo, num agrupamento escolar de Sintra, tem 68 anos de idade”, disse o sindicalista, acrescentando que as demoras até conseguirem entrar nos quadros da Função Pública fazem com que muitos só o consigam após uma dezena ou mais anos. “Dos mais de 34 mil que concorreram este ano, mais de 11 mil têm dez anos de serviço e há cerca de 5.000 com 15 anos de serviço”, acrescentou João Pereira.