Autárquicas ‘sui generis’ a justificar muita reflexão

As autárquicas do último domingo vão justificar uma análise estratégica de algumas forças partidárias e abrir, sem nenhuma dúvida, espaço para muitas especulações.

PS e CDU continuam a lutar pela hegemonia no distrito, sendo que, desta feita, os socialistas continuam num crescendo, retirando mais uma câmara à coligação PCP/PEV, obtendo mais votos e mais mandatos. Esteve à bica de conquistar a AMRS – Associação dos Municípios da Região de Setúbal, salva, agora, pelos votos de Alcácer e Santiago, dois dos quatro concelhos do Litoral Alentejano que integram aquele órgão e têm direito a voto.

Mas o PS foi mais longe. Ao ganhar mais 22 mil votos relativamente às eleições de há quatro anos, não deixou qualquer maioria absoluta às quatro câmaras agora geridas pela CDU: Palmela, Seixal, Setúbal e Sesimbra. E isso é outro grande problema, porque implica problemas de governabilidade, uma vez que Jerónimo de Sousa, o líder do PCP, já garantiu que o seu partido não vai fazer coligações nem acordos.

A CDU é assim uma das perdedoras destas eleições, embora continue a deter mais câmaras que o PS – mercê das vitórias no litoral Alentejano em Alcácer, Grândola e Santiago – a par do Bloco de Esquerda, que perde cerca de sete mil votos e três dos quatro vereadores eleitos em 2017, quedando-se, agora, atrás de PS, CDU, Chega e PSD.

O PS desestabilizou à esquerda, ‘secando’ e garantindo algum voto útil, enquanto que, à direita, o aparecimento do Chega fez definhar um PSD que precisa de uma enorme reflexão sobre o seu papel autárquico na região de Setúbal. Ultrapassado pelo Chega, passa a quarta força política. Divisões internas em alguns casos, como o de Setúbal, ou más escolhas na generalidade do distrito, ditaram um resultado que, olhando para o todo nacional, deixa a distrital em maus lençóis.

Uma última palavra para um dado não despiciendo. A ideia de um PS forte no distrito começa a ganhar forma, mesmo com a perda de maioria no Montijo. A prová-lo, está o facto de os presidentes de Alcochete, Barreiro e Almada – câmaras conquistadas em 2017 pelo PS à CDU – terem reforçado as suas magras vitórias de há quatro anos, duas delas com maioria absoluta. E isto porque os socialistas nem sempre conseguiram segurar, e muito menos consolidar, as suas conquistas, como já aconteceu em Alcochete e Barreiro, nomeadamente. A grande pecha, nesta desdita com a CDU, dá-se a Sul, no Litoral Alentejano, onde parece não conseguir descolar, com exceção de Sines.

Raul Tavares
Diretor