A Educação como “preditor robusto”

As temperaturas amenas dos últimos dias de outubro chegaram ao fim dando lugar “às invernias” de um “rio atmosférico” e, ao chumbo do Orçamento de Estado. A chuva faz-nos falta! A instabilidade política representa um óbice perante as dificuldades desta fase “quase pós-covid”. É necessário manter o otimismo!

É precisamente no setor da educação que conseguimos identificar sinais que nos permitem manter otimismo. Não é só uma questão de crença… O extraordinário número de candidatos ao ensino superior, nos últimos dois anos, através dos diferentes regimes de acesso e de ingresso, é um desses sinais. Mais do que um sinal!

Numa entrevista ao caderno de economia do Jornal Expresso, no passado dia 23 de outubro (p.10), o economista e professor Thomas Philippon, da Stern School of Business, da New York University, a propósito da sua intervenção com o tema “criar valor numa economia global”, na fundação Francisco Manuel dos Santos, afirma em jeito de conclusão que: “…o único preditor robusto sobre se um país cresce rapidamente é a educação da população. Também é preciso olhar para o investimento das empresas, mas é menos importante. Isto tem uma forte conexão com Portugal”. Num período em que tanto se tem discutido o PRR ao nível da dicotomia entre o apoio às empresas ou ao setor público, esta frase justificaria um destaque de primeira página.

Na entrevista, Thomas Philippon faz uma análise retrospetiva da nossa economia e um elogio a Portugal. Refere que a “grande diferença no início do ano 2000 entre Portugal e o resto da Europa era a educação da nossa população, que nos colocava em desvantagem”. Em função desta análise, destaca “as reformas feitas na educação em função do diagnóstico efetuado e das decisões políticas tomadas”, com impacto passados 20 anos. Cá estamos!

Ao ler a entrevista fiz uma rápida retrospetiva de reformas ou mudanças recentes no nosso sistema de ensino, com impacto no aumento das qualificações da nossa população. E, de forma muito sintética, destacaria: i) a escolaridade obrigatória até ao 12.º ano ou aos 18 anos, desde 2009; ii) a criação dos cursos Técnico Superiores Profissionais (CTESP), em 2014; iii) a exceção criada nos dois últimos anos, em que os exames nacionais, não contaram para as notas do ensino secundário – estando esta exceção, em minha opinião, relacionada com o excelente e excecional número de alunos que concorreram ao ensino superior.

Voltando à educação como preditor. A sequência temporal e o impacto do sucesso dos três exemplos na qualificação da população portuguesa, vai traduzir-se seguramente num “crescimento mais elevado da nossa economia”, acreditando no que nos diz Thomas Philippon. E, induzir uma pressão positiva sobre aqueles que ainda não se qualificaram apesar de estarem no mercado de trabalho (a começar pelos próprios empresários).

Mas como não está tudo feito, precisamos rapidamente de estabilidade governativa e um de Orçamento de Estado aprovado! É necessário rever com urgência o regime de acesso e ingresso no ensino superior e o quadro jurídico da “formação ao longo da vida”… Não, não está tudo feito!

Aldo Passarinho
Professor Instituto Politécnico de Beja